Educação reinventada: rumo a 2030

Dimensão analítica: Educação e Ciência

Título do artigo: Educação reinventada: rumo a 2030

Autora: Beatriz Koppe

Filiação institucional: Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias – Doutoramento em Educação

E-mail: beatrizkoppe@hotmail.com

Palavras-chave: Educação, Skills, Futuro.

Em 2020, de repente ecoou o caos no planeta. Uma realidade inusitada ameaçou a segurança física e emocional das pessoas. Dadas às circunstâncias, fomos obrigados a nos proteger e a ficar em casa. Junto ao distanciamento social vieram o home office e as aulas remotas. A educação teve de ser reinventada, enquanto o alarme da crise disparava por todos os lados.

Santos [3], no entanto, diz que a pandemia não foi responsável pela crise. A COVID 19 só veio intensificar o que já vivemos há décadas, e que o reflexo se podia ver na forma de trabalhar, de conviver e de consumir. O vírus ajudou a conferir uma “liberdade caótica” [3], por isso, agora, mais do que nunca, precisamos repensar a nossa forma de viver e de ser, o que se reflete também na forma de dar aulas, de estudar, de pensar e, até mesmo, de exercer o papel de pais/encarregados de educação. A nova realidade mostra-nos o quão vulneráveis somos e, nessa história, estamos todos no mesmo barco.

As aulas remotas foram a solução encontrada para o trabalho. De repente, a tecnologia, que muitos usavam apenas para a comunicação e o lazer, passou a ser o meio que viabiliza a educação. O resultado foi o aumento da procura de trabalho de muitos professores, a exigência de novas capacidades dos pais/encarregados de educação e a insuficiência de aptidões dos estudantes. Pais, alunos e professores precisaram (re)forçar uma aprendizagem. Foi necessário empenho e força de vontade para dar tudo certo. Foi preciso reinventar o que existe e uma adaptação à nova realidade.

Perante esse cenário, a OCDE e a UNESCO apresentaram propostas para o desenvolvimento na educação, nomeadamente a necessidade de desenvolver um conjunto de skills para se enfrentar o futuro. Será que essas skills, ou conjunto de capacidades, correspondem às reais necessidades para o desenvolvimento das pessoas? Ou será que a pandemia veio mostrar-nos que tudo o que tínhamos de concreto precisa ser repensado?

Tanto a OCDE quanto a UNESCO, percebem a educação como a condição para a mudança e o crescimento. Para a OCDE, a educação é um serviço utilizado para atingir o desenvolvimento econômico; para a UNESCO, ela é um bem público, e todos têm os mesmos direitos de acesso à educação e de se desenvolverem plenamente como cidadãos.

Para a OCDE [1], é pela educação que se desenvolvem as habilidades e as competências necessárias para se construir atitudes e valores nos indivíduos, além de garantir a sustentabilidade, a paz no planeta e o desenvolvimento económico. É pela educação que as pessoas terão um futuro inclusivo e sustentável, por isso é fundamental munir os jovens com capacidades para o trabalho, tornando-os cidadãos responsáveis, ativos e comprometidos. O papel dos professores é trabalhar com o estudante um leque amplo de relacionamentos que influenciam a sua aprendizagem, cuja estrutura deve seguir o modelo coagency, em que as relações são interativas, e o apoio mútuo. Isso significa que um ajuda o outro a progredir, o que se estende a toda a comunidade escolar (alunos, professores, gestores, pais, etc.). A proposta envolve um modelo de Learning Compass, ou Bússola de Aprendizagem [1], para que, dessa forma, todos possam navegar rumo a um futuro inclusivo e sustentável.

A UNESCO [4], por seu turno, cuja visão é, essencialmente, humanitária, apresentou, em 2015, a Agenda 2030. São 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS). Entre eles, o quarto objetivo merece a nossa atenção: educação de qualidade, inclusiva e equitativa, com promoção de oportunidades de aprendizagem ao longo da vida e para todos. Entre as metas para alcançar essa educação de qualidade, está o aumento do número de jovens e adultos com capacidades (técnicas e profissionais), para emprego, trabalho e empreendedorismo [4]. A educação sugerida perpassa todas as faixas etárias, afinal a aprendizagem deve persistir ao longo da vida.

Diante da pandemia, a OCDE [4] em março de 2020 sugeriu ações para não parar a educação. Ela apresentou um documento com recursos curriculares, como sites, ferramentas, livros didáticos, programas e plataformas para uso durante o confinamento (e mesmo depois). Mas será que foi suficiente para atender a procura e a necessidade do momento? Todas as pessoas tiveram acesso à Internet ou tinham, por exemplo, um computador em casa? E, mais do que isso, as pessoas em geral tinham capacidades suficientes para fazer uso dos recursos tecnológicos?

Em maio de 2020, a UNESCO [5] também apresentou uma proposta: nove ações para uma ação pública de emergência. Dessas, há a necessidade de fornecer tecnologias gratuitas e códigos abertos para os professores e alunos, afinal os recursos e ferramentas digitais não podem depender de empresas privadas, como a organização mesmo explica.

Na nossa perspetiva, não sabemos se vale a pena criar expectativas em torno da realização dessas propostas, pois o que ainda falta às pessoas são competências básicas, como o respeito, a solidariedade e o amor ao próximo. Do rol em prática, e que explica muito da crise apresentada por Santos [3], é necessário excluir o poder, a ganância e a cruel capacidade de destruir o próprio habitat. Mesmo assim, naveguemos confiantes rumo a 2030.

 

Notas:

[1] OECD  Organisation for Economic Co-operation and Development. (2018). The Future of Education and Skills: Education 2030. OECD Education Working Papers, 23. URL https://www.oecd.org/education/2030/E2030%20Position%20Paper%20(05.04.2018).pdf

[2] Reimers, F., Schleicher, A., Saavedra, J., & Tuominen, S. (2020). Supporting the continuation of teaching and learning during the COVID-19 pandemic. Oecd, 1(1), 1-38. URL https://www.oecd.org/education/Supporting-the-continuation-of-teaching-and-learning-during-the-COVID-19-pandemic.pdf

[3] Santos, B. de S. (2020). A cruel pedagogia do vírus. Coimbra: Edições Almedina.

[4] UNESCO (2015). Education 2030: Incheon Declaration and Framework for Action for the implementation of Sustainable Development Goal 4: Ensure inclusive and equitable quality education and promote lifelong learning. Digital Library, 83. URL http://unesdoc.unesco.org/images/0024/002456/245656E.pdf

[5] UNESCO (2020). Educação em um mundo pós-COVID: nove ideias para ação pública. URL https://en.unesco.org/news/education-post-covid-world-nine-ideas-public-action

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