Ambiente, Espaço e Território
Coordenação temática: José Pedro Silva (EPIUnit – Instituto de Saúde Pública da UP – Laboratório para a Investigação Integrativa e Translacional em Saúde Populacional; & Instituto de Sociologia, UP); Isabel Silva Cruz (Investigadora)
Henri Lefebvre disse que o conceito de espaço não está dentro do espaço. É indiscutível que a análise do espaço vai bem mais além que a análise da sua existência física. E mesmo essa dimensão, a física, está recheada de dimensões sociais.
Os territórios inscrevem as marcas da intervenção humana desdobrando-se em cartografias múltiplas. O espaço (de)marca-se, disputa-se, explora-se, ignora-se, (re)ordena-se; em todas estas relações é possível mobilizar a distinção lefebvriana entre espaço percebido, representado, vivido e concebido, que quebra possíveis leituras monolíticas do espaço.
A ecologia, enquanto estudo científico das relações entre os seres vivos e o seu meio ambiente, procura compreender os factores, e as relações entre eles. Neste sentido, a Escola de Chicago é referência incontornável da ecologia urbana e estudos sobre a cidade. O mapeamento social da cidade de Chicago apresentado nos anos 30 por Robert Park consolida a pertinência de uma visão articulada das diferentes energias da cidade. Assim sendo, a relação entre espaço e sociedade desenvolve-se dialecticamente. A Economia, a Mobilidade e Comunicação, os processos de Urbanização (periurbanização, rurbanização, etc.), os indicadores gerados pela Demografia, as delimitações Políticas e Administrativas, entre muitos outros enfoques, constituem os territórios.
Os textos aqui apresentados testemunharão olhares sensíveis a esta dimensão espacial e territorial, que nos coloca sempre em relação, já que por muito que sejamos interpelados pelos processos de “desterritorialização” dos fenómenos sociais, pensamos que para o questionamento e reflexão das relações sociais com o meio ambiente faz todo o sentido continuar a perspectivar, de forma interligada, o “onde” e o “como”.
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Cidadania, Desigualdades e Participação Social
Coordenação temática: Maria João Oliveira (Instituto de Sociologia, UP).
As sociedades ocidentais contemporâneas caracterizam-se pelas variadas transformações de valores e mudanças estruturais que decorrem do processo de globalização, nas suas diversas vertentes, e pelas desigualdades daí advindas.
Algumas das mudanças sociais a que assistimos contemporaneamente tornam-se visíveis ao nível da emergência de novos valores. Surgem novos actores sociais, emergem novas práticas e todo um novo manancial de acção. Progressivamente, assiste-se ao abandono do Estado enquanto elemento unificador da vida social. Um exemplo deste fenómeno consiste na gradual desvinculação dos indivíduos face aos partidos políticos, cuja representatividade na sociedade actual é cada vez menor. Actualmente, assistimos a uma alienação política por parte da população portuguesa, eminentemente distanciada do poder político.
O aumento da participação social, em Portugal, ocorre somente após o 25 de Abril de 1974, em virtude do afrouxamento da pressão social e política em que o país se encontrava imerso. Este crescimento participativo relaciona-se com um processo transitório democrático, e não tanto com questões directamente relacionadas com a mudança de valores, de atitudes e de comportamentos. Hodiernamente, Portugal detém o mais baixo índice de associativismo por habitante de toda a Europa. A democracia pressupõe a participação efectiva da população na vivência democrática. Os portugueses não exercem a sua cidadania de uma forma activa, a participação social e o envolvimento democráticos não fazem parte do seu quotidiano. As instituições, associações e os movimentos sociais promovem a participação social e envolvem os cidadãos no processo de desenvolvimento das sociedades democráticas, com o intuito de alcançar a participação, a inclusão social e a diminuição das desigualdades, sendo pilares fundamentais para a construção de uma cidadania activa.
Esta dimensão procura dar atenção e promover uma reflexão crítica sobre as problemáticas referidas, privilegiando os artigos de opinião que dêem conta da dinamização do tecido social promovida pela participação social, pelos movimentos sociais, e ainda das estruturas de desigualdade e dos mecanismos de integração social.
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Cultura, Artes e Públicos
Coordenação temática: Cláudia Marisa (Instituto de Sociologia, UP & ESMAE – Instituto Politécnico do Porto)
O objectivo desta dimensão será proporcionar um espaço de discussão alargado acerca das múltiplas questões associadas às esferas da Cultura e das Artes. A constatação da omnipresença do simbólico na vida quotidiana tem resultado, ao longo dos anos, em diversas tentativas de captação do fenómeno cultural pela via científica, sendo que as ciências sociais têm assumido um papel preponderante nessa busca de inteligibilidade.
A revolução de 1974 assinalou, de forma permanente, uma mudança em todas as instâncias da sociedade. A Cultura e as Artes, não sendo excepção, conheceram, na época que sucedeu à instauração da democracia, uma inversão das tendências verificadas nos anos da ditadura. O fim da censura, a democratização do ensino e a democratização da Cultura, para além do aumento exponencial da oferta cultural, despertaram um interesse e procura suplementares, condições que vieram alterar definitivamente o cenário associado à estrutura da oferta e da procura cultural portuguesas.
Hoje em dia, vive-se um momento em que a Cultura e as Artes se revestem de um valor estratégico evidente, com repercussões ao nível do próprio crescimento económico e social, da inovação e da coesão social. Diversos autores têm defendido que a Cultura apresenta, cada vez mais, uma espacialidade própria, que combina a espacialidade física dos equipamentos e actos culturais com a própria espacialidade social e política.
O exercício a que nos propomos é a promoção da discussão sobre os modos de fazer e de apresentar a Cultura e as Artes no actual contexto de globalização. Para tal, concentrar-nos-emos menos na dimensão subjectiva da Cultura – que considera o aspecto humano associado à cultura, os valores, os modelos de comportamento, os critérios normativos interiorizados, etc. – e mais na sua dimensão objectiva – a Cultura stricto sensu: práticas, equipamentos e políticas culturais; produção, intermediação e recepção cultural; e públicos da cultura.
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Educação e Ciência
Coordenação temática: João Aguiar (Instituto de Sociologia, UP)
A sociedade portuguesa em geral tem vindo a ser palco de fortes mudanças a nível socioeconómico, cultural e político nas últimas décadas, nomeadamente a partir de meados dos anos 70 do século passado.
Emergem, assim, deste novo cenário, novos protagonismos, novas apostas, novos tipos de acções. Equacionar estas novas emergências à luz desta dimensão é ter em linha de conta o(s) novo(s) papel(eis) desempenhado(s) pela escola/educação, pela ciência e pela tecnologia na vida dos cidadãos e as mais valias que (eventualmente) daí decorrem.
A democratização do ensino e consequente acesso massificado ao ensino, com reflexos ao nível da uma maior abertura da ciência e da tecnologia ao cidadão e de um maior acesso deste àqueles, tem contribuído para impulsionar de facto o aumento significativo do nível de escolaridade da população portuguesa, a feminização do ensino nomeadamente nos níveis secundário e superior, o franco declínio das taxas de analfabetismo na população portuguesa, a melhoria do nível de vida em geral, a ascensão social de uma franja significativa da população ou a sua aspiração, entre outros.
Abordar, então, a educação, a ciência e a tecnologia na nossa sociedade implica ter presente o impacto causado por um conjunto de transformações que a têm vindo a pautar, de entre as quais se destacariam a aquisição de saberes, de competências e de qualificações, advindas de uma permanência cada vez mais prolongada num espaço específico de eleição – a escola – consonante, todavia, com uma ainda significativa taxa de abandono precoce dos patamares escolares e com uma ainda pouco significativa taxa de formação continuada face aos nossos parceiros europeus.
Com esta dimensão, pretende-se reflectir não só sobre o tipo de educação predominante nos tempos actuais, suas articulações com a ciência e com a tecnologia mas também sobre o seu impacto na população. Neste contexto, um breve apontamento: por um lado as teses do capital humano, hoje em questão, e o alargamento laboral da aplicação dos conhecimentos certificados em simultâneo com o aumento de desemprego qualificado e certificado; por outro, os dinâmicos processos de socialização cada vez mais alargados no tempo e cada vez mais difusos que assertivamente, ou não, vão moldando (im)possibilidades accionais nos agentes sociais com forte reflexo no prolongamento ou retorno às vivências escolares.
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Economia, Trabalho e Governação Pública
Coordenação temática: Sofia Alexandra Cruz (Instituto de Sociologia, UP & FEP-UP)
As transformações económicas actuais despoletam alterações significativas no mercado de trabalho. Muito embora algumas perspectivas advoguem que estas alterações permitem questionar a centralidade do trabalho na esfera individual e colectiva, seria seguramente precipitado não reconhecer a sua importância na vida dos indivíduos e na dinâmica da sociedade.
O contexto económico em que vivemos aponta para um modelo configurado por processos produtivos e práticas de gestão sustentadas em critérios diversos de flexibilidade. Nas suas distintas formas, a flexibilidade contribui para promover maior rotação no mercado de trabalho e incrementar por vezes o desemprego, sobretudo de longa duração, em particular para os trabalhadores com idade mais avançada e níveis de escolaridade reduzidos. Embora de modo desigual, os mais jovens e detentores de qualificações escolares elevadas também não parecem ficar imunes a este fenómeno. Assim sendo, importa analisar articuladamente matérias relativas às esferas da educação, formação e do mercado de trabalho.
Simultaneamente, tendências como a da precarização laboral têm emergido. À semelhança da flexibilidade, a precarização assume igualmente configurações particulares que carecem de análises devidamente sustentadas. Embora a flexibilidade e a precarização laborais não se revelem realidades sinónimas, tendem a estar associadas e desencadeiam múltiplos efeitos ao nível das referências identitárias dos trabalhadores que impõem reflexões em torno da dignidade no trabalho.
Partindo deste enquadramento, a dimensão de análise pretende reflectir sobre as mudanças, tensões e desafios que atravessam a economia, o trabalho, o emprego e a governação pública nas sociedades contemporâneas. Abordando temáticas como, por exemplo: o dinamismo económico e produtivo; a flexibilidade e precarização laborais; a dignidade no trabalho; a construção social dos grupos profissionais; as práticas de gestão de recursos humanos; a mudança organizacional; a construção de saberes e competências; o empreendedorismo; a política económica; a Administração Pública; ou a Justiça.
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Saúde e Condições e Estilos de Vida
Coordenação temática: Hernâni Veloso Neto (Instituto de Sociologia, UP) e Sandra Lima Coelho (Universidade Católica do Porto)
As mudanças estruturais que se verificam na sociedade portuguesa, nas décadas de 1960 a 1990, traduzem-se, entre outros aspectos, no alargamento dos direitos sociais (à educação, à saúde, à habitação, ao emprego, entre outros), na diversificação das aspirações potenciada pela informação e pelo conhecimento, na alteração das relações intergeracionais (“cultura jovem”) e no aumento exponencial das ofertas de bens e serviços a camadas cada vez mais diversificadas da população. Todas estas mudanças revelam um aumento do nível de desenvolvimento socioeconómico do país e, consequentemente, das condições de vida dos portugueses e dos níveis de saúde.
Também será dada grande atenção à saúde enquanto sector de atividade e esfera de políticas públicas. Independentemente do seu paradigma organizacional, é um dos mais importantes de qualquer sociedade e, por essa via, de acordo com diversos autores, uma das áreas mais complexas de estudo. Conjugando isto com as lógicas internas decorrentes das estruturas de poder e de decisão que coexistem no interior das organizações prestadoras de cuidados, com os jogos políticos de que os sistemas de saúde são constantemente alvos, ou, ainda, com as incertezas económicas que se traduzem em baixos níveis de crescimento económico e dificuldades de financiamento e sustentabilidade do sistema, pode-se perspectivar mais uma base social de análise muito relevante.
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