Os Jogos Olímpicos Modernos

Dimensão analítica: Saúde e Condições e Estilos de Vida

Título do artigo: Os Jogos Olímpicos Modernos

Autor: Vítor Rosa

Filiação institucional: Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

E-mail: vitor.alberto.rosa@gmail.com

Palavras-chave: Desporto, Jogos Olímpicos, Educação.

25 de novembro de 1892, na Sorbonne…

“Quinze séculos passaram depois da destruição do templo sagrado Olímpio (395 depois de Cristo) por um cristão fanático, Imperador Romano Teodósio. Mas a lembrança dos Jogos Olímpicos sobreviveu no coração dos ferventes de uma Antiguidade sempre renascente. No decurso do século XIX, a educação do corpo foi conhecendo um novo impulso sob o impulso de um coronel espanhol, de um oficial alemão e de um oficial sueco e de um reverendo inglês. A educação física se desenvolveu e os estudantes franceses fundaram clubes… É assim que um homem jovem sonha em restaurar os Jogos Olímpicos. Era um barão com gosto pela história e a pedagogia. Ele tinha as ideias muito audaciosas, era eloquente e inteligente. Ele viajava muito, enviava cartas para o mundo inteiro, multiplicava a suas visitas às universidades, aos embaixadores, aos ministros, mas sobretudo aos barões, aos condes, aos duques, do qual ele fez aliados do seu ideal. Ele adorava envolver-se os seus atos em cerimónias que lhe custaram muito caro, mas que permitiu passar as suas ideias. No entanto, faltava-lhe o humor, ele tinha apenas 29 anos quando resolveu fazer da Sorbonne o berço do que ele chamava “o seu bebé: o olimpismo” [1]

 

Uma noite de novembro de 1892… exatamente a sexta-feira, dia 25. O grande anfiteatro da Sorbonne foi palco da cerimónia do quinto aniversário da União dos Desportos Atléticos. Para terminar o seu discurso de forma sensacional, o barão Pierre de Coubertin, nascido em 1863, em Paris, propõe a restauração dos Jogos Olímpicos (JO). Oposição? Protestos? Ironia? Indiferença? Nada disso. Recebeu alguns aplausos, desejaram-lhe bom sucesso, mas ninguém percebeu a mensagem. Era a incompreensão total, absoluta, que começou. E que durou muito tempo. Em 16 de junho de 1894, ainda na Sorbonne, Coubertin decidiu organizar um grande congresso, tendo na ordem de trabalhos o restabelecimento dos Jogos. Dois anos depois, em Atenas, foram realizados os primeiros JO Modernos.

A primeira Olimpíada contou com 285 atletas oriundos de 13 nações para se afrontar em 9 desportos. 70 mil espetadores assistiram ao espetáculo. O vencedor do disco lançou 29 metros e 15 centímetros e o americano Burke foi consagrado campeão olímpico dos 10 metros em 12 segundos. Outras provas foram legendárias [2]. Nos quatros JO, em 1908, em Londres, já participaram 23 nações e 2.085 atletas. Os JO ganharam em autonomia e força. O cerimonial agradou Coubertin, mas o espetáculo ainda estava longe do que ele sonhara. Os JO de 1936, na Alemanha, dão uma impressão grandiosa e inquietante, pelo desvio nacionalista, traindo o caráter universal e pacífico dos JO. Os alemães construíram um estádio com 100.000 lugares. Coubertin não deixará de enaltecer este projeto conseguido e de agradecer ao povo alemão [3]. Ele coloca o papel do desporto como um meio de educação [4]. Afirmou sempre que o desporto não é nada se é separado da educação; só assim se poderia resolver todos os males individuais e sociais.

Os “deuses dos estádios” continuam com as suas proezas e os JO continuam a fazer o seu caminho. Os últimos tiveram lugar no Rio de Janeiro (Brasil), em 2016.

Os JO se instalam no quadro moderno, mas com o espírito antigo que os anima. Inúmeros são os problemas de ordem técnica, negociações, concessões recíprocas e legislação imposta. As guerras não os destroem. As aberturas e os encerramentos com aspeto solene são desejáveis. Fazem parte do espetáculo. A lei fundamental dos JO mantém-se: “para que 100 se entreguem à cultura física, é preciso que 50 façam desporto. Para que os 50 façam desporto, é preciso que 20 se especializem. Para que os 20 se especializem, é preciso que 5 sejam capáveis de proezas surpreendentes” [5].

Para o grande público, o barão de Coubertin é o renovador dos JO. Ignora-se, geralmente, que ele fundou em 1906 e presidiu a Associação para a Reforma do Ensino Francês; que, em 1910, fundou a Liga de Educação Nacional; que, em 1917-1918, em Lausanne, com o nome de “Instituto Olímpico”, organizou e animou um centro de educação; e que consagrou vários anos da sua vida a escrever a História Universal em 4 volumes. Muitos só veem os aspetos negativos, nomeadamente o de ter sido contra a participação das mulheres no desporto.

Será que o Olimpismo triunfa segundo a vontade de Coubertin? Será que é exaltado o desporto desinteressado e o desporto praticado apenas pelo prazer e o desenvolvimento de si próprio? Infelizmente, não.

De divertimento aristocrático na origem, o desporto conheceu desde o século XIX uma evolução prodigiosa, sendo um dos fenómenos sociais mais marcantes da atualidade. A sua prática democratizou-se e abrange toda a população. O seu caráter internacional continua a afirmar-se com força. Se é certo de que o desporto continua a ser uma distração, à mão de grande número de indivíduos, ele é também uma atividade de compensação indispensável ao Homem maltratado pelos múltiplos constrangimentos da vida moderna.

O desporto é mais necessário do que nunca. Os progressos da ciência e da técnica, o desenvolvimento da máquina, da divisão do trabalho, a concentração urbana e as condições de alojamento, o aumento dos tempos de lazer e a melhoria dos níveis de vida transformaram a existência dos indivíduos. A civilização tecnicista fez nascer nele a necessidade crescente de movimento, da necessidade de uma atividade física compensadora, de um jogo e fonte de descontração e de distração.

Notas:

[1] Magnane, G. (1952). Regards neuf sur les Jeux Olympiques. Paris : Éditions du Seuil, p. 71.

[2] idem, p. 79.

[3] http://www.ina.fr/audio/PH106001133, consultado em 22/06/2017.

[4] Magnane (1952, p. 149).

[5] Pierre de Coubertin (1972 [1922]). Pédagogie sportive : histoire des exercices sportifs technique des exercices sportifs action morale et sociale des exercices sportifs. Paris : Librairie J. Vrin.

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