Centros de Estudo e de Explicações: entre a Atividade Económica e a Pedagógica

Dimensão analítica: Educação, Ciência e Tecnologia

Título do artigo: Centros de Estudo e de Explicações: entre a Atividade Económica e a Pedagógica

Autor/a: Alcina Figueiroa1, José Manuel Coutos12 e Maria Orquídea Campos1

Filiação institucional: 1Investigadora Integrada RECI – Instituto Piaget; 2Investigador Instituto de Sociologia da Universidade do Porto;

E-mail: alcina.figueiroa@gaia.ipiaget.pt; jose.couto@gaia.ipiaget.pt; orquidea.campos@gaia.ipiaget.pt

Palavras-chave: centros de estudo, escola, família.

Da nossa experiência diária e de uma breve pesquisa nas redes sociais, resulta a ideia de que, nos últimos anos, os centros de estudo e de explicações (CEeE) têm vindo a disseminar-se vertiginosamente. Apostando em meios e estilos de divulgação apelativos e sedutores, e assumindo diferentes designações – centros de explicações, centros de explicações e apoio pedagógico, salas de explicações, salas de estudo… –, estes espaços constituem, em última análise, centros de apoio pedagógico complementares particulares. Assim sendo, evidencia-se uma certa indiferenciação entre duas vertentes fundamentais: a pedagógica e a económico-empresarial.

Quer nos meios de divulgação quer nos próprios regulamentos internos deste tipo de centros, sobressaem preocupações de natureza pedagógica, que se prendem com o sucesso escolar dos alunos: apoio diário ao estudo, realização dos trabalhos de casa, preparação para testes e exames nacionais, melhoria de notas, ocupação do tempo… Por conseguinte, ressalta uma forte ligação à atividade escolar e educativa, num regime de alargada abrangência em termos de níveis de escolaridade, em muitos casos desde 1º Ciclo do Ensino Básico ao Ensino Secundário.

Contudo, se pesquisarmos legislação específica de enquadramento, licenciamento e regulamentação deste tipo de estabelecimentos [1], quer quanto à tipologia arquitetónica quer quanto ao funcionamento ou a orientações pedagógicas, deparamo-nos com um surpreendente vazio, ou seja, informações vagas e difusas [2]. Sabemos que se trata de um conceito relativamente recente, mas que, atendendo ao crescente número de adeptos, deve ser alvo de uma atenção particular por parte de todas entidades e instituições responsáveis pela educação no nosso país.

Na verdade, introduzindo assinaláveis mudanças sociais, nomeadamente no tipo de dinâmicas escolares e familiares, percecionamos que muitos professores das diferentes áreas disciplinares contam já com o apoio de retaguarda dos centros de estudo, uma espécie de extensão particular da escola, pese embora o risco de dissonância e eventual conflito entre objetivos e práticas educativas. Relativamente à família, parece-nos, igualmente, que, em muitos casos, há interesses vários que podem ir das preocupações de natureza pedagógica às de guarda dos filhos, apesar do inerente encargo financeiro.

Face ao exposto, urge obter respostas para algumas questões que podem contribuir para uma clarificação da identidade, dos fins e garantia da qualidade pedagógica deste tipo de estabelecimentos. Importa, ainda, uma reflexão sobre o tipo de articulação e diálogo entre estes contextos de educação não-formal e as instituições escolares do território geográfico onde se inserem, de onde provêm, naturalmente, os alunos que os frequentam. Curiosamente, anota-se que muitos centros de estudo funcionam nas proximidades de estabelecimentos escolares.

Como educadores, professores e investigadores, sentimos que não podemos ficar alheios a este fenómeno que, de certa forma, acaba por ter implicações aos níveis pedagógico, psicológico e sociológico.

Neste sentido, encetamos um projeto de investigação, ainda embrionário, que incide sobre esta problemática, concentrando-nos, numa primeira fase, no Concelho de Vila Nova de Gaia, partindo do mapa de freguesias/agrupamentos de freguesias, partindo das seguintes questões de investigação:

– Que respostas procuram as famílias e/ou os respetivos educandos nos CEeE?

– Que diretrizes e organismos oficiais regulam, orientam e avaliam os CEeE?

– Existe algum tipo de articulação entre os CEeE com os estabelecimentos de ensino locais e com as instituições autárquicas do território?

– Que fatores estarão na base da localização geográfica dos CEeE?

– Contribuirão os CEeE para uma efetiva melhoria das aprendizagens?

Na tentativa de encontrar respostas para estas questões, delinearam-se os seguintes objetivos:

– conhecer o quadro legislativo que regulamenta os centros de estudo e de explicações;

– identificar os centros de estudo e de explicações existentes no concelho de Vila Nova de Gaia;

– caraterizar os centros de estudo e de explicações do Concelho de Vila Nova de Gaia, quanto à localização, estrutura orgânica, oferta formativa e outras atividades, logística, procedimentos pedagógico-didáticos;

– conhecer as perceções das famílias e dos alunos que frequentam centros de estudo e de explicações;

– conhecer as perceções dos professores e dos órgãos de gestão escolar;

– interpretar o impacto social destes estabelecimentos de apoio pedagógico complementar particular.

Com este breve artigo e com o projeto iniciado, que aqui partilhamos, pretendemos desencadear uma reflexão alargada sobre a pertinência e o papel dos centros de estudo e de explicações no processo ensino-aprendizagem. Parece-nos não restarem dúvidas de que, em muitos casos, estes espaços constituem uma indiscutível mais-valia no apoio escolar e educativo. Porém, parece-nos, igualmente, persistir a necessidade de clarificar questões como as que aduzimos acima, no sentido de dar real sentido às diferentes designações que os centros de estudo adotam e aos fins a que se propõe, otimizando progressivamente as aprendizagens, não apenas numa perspetiva académica, mas também holística.

Notas:

[1] Instituto da Segurança Social, I.P. (2014), Guia Prático – Licenciamento da Atividade dos Estabelecimento de Apoio Social, Disponível em URL [Consult. 10 de maio 2016]: <http://www.seg-social.pt>

[2] Portal do licenciamento: apoio social e ensino, Disponível em URL [Consult. 11 de maio 2016]: <http://www.portaldolicenciamento.com>

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