“COMUNICAR: renovação em contexto de incerteza”

Dimensão analítica: Cultura e Artes

Título do artigo: “COMUNICAR: renovação em contexto de incerteza”

Autora: Adriana Almeida

Filiação institucional: Técnica Superior de Serviço Educativo

E-mail: m.adriana@megamail.pt

Palavras-chave: museu, mediação, parcerias.

 

Nos tempos que vivemos, marcados pela austeridade, pelos cortes de verbas em diversos setores da sociedade portuguesa, pela incerteza quanto ao futuro próximo, pela ansiedade por melhores momentos, a cultura permanece como “parente pobre” em termos do investimento público e privado.

O tão almejado 1% do orçamento anual para a cultura fica, uma vez mais, adiado para um futuro também ele incerto.

Neste cenário, o tema das potencialidades sociais e económicas das indústrias culturais e criativas ganha terreno e capta paulatinamente a atenção de alguns responsáveis políticos europeus, nacionais e locais. Multiplicam-se projetos criativos em diversas áreas artísticas, criam-se espaços para incubação de ideias e lançamento de empresas, surgem áreas de acolhimento, desenvolvimento e lançamento de pequenas unidades de produção cultural dinamizadas com novas formas de organização do trabalho (coworking), renovam-se e dinamizam-se áreas urbanas e rurais através da alavancagem proporcionada  por estas novas formas de atuação.

Paralelamente, áreas antes consagradas (teatro, dança, música clássica, museus, literatura…) mas sempre fragilizadas pelas pouco expressivas práticas culturais da maioria da população portuguesa, vivem momentos de redução de equipas e programação senão mesmo de cessação da própria atividade para a qual foram criadas.

É neste contexto, e em pleno contraciclo, que o Museu dos Transportes e Comunicações (tutelado pela Associação para o Museu dos Transportes e Comunicações criada em 1992 como instituição privada, sem fins lucrativos e de utilidade pública, alojada no Edifício da Alfândega Nova do Porto), arrisca novos projetos expositivos apoiados pelo QREN/ON.

Se tomarmos o conceito “crise” sob a perspetiva da psicologia do desenvolvimento encontramos sinónimos como “mudança”, “substituições rápidas”, “exigência de esforço suplementar para manter o equilíbrio”, “ocasião de crescimento” e “aprendizagem”.

Nesta perspetiva, o Museu vive o contexto da crise como momento de mudança e crescimento no que diz respeito ao alargamento da sua oferta cultural com a renovação da área dedicada ao tema comunicação e construção de um novo projeto expositivo tendo o automóvel como veículo para ilustrar o centenário da república em Portugal.

No que diz respeito ao espaço COMUNICAR ele corporiza um conjunto de valores que se foram solidificando através das práticas de mediação cultural que se vêm desenvolvendo ao longo dos anos na relação estabelecida entre o museu e os seus públicos.

O Museu assume-se como um espaço de aprendizagem, acessível e inclusivo. Um espaço atraente, que cativa para momentos de evasão, reflexão e ação em torno de temas vários através de desafios e experiências. A afetividade, a emoção, a provocação de sensações diversas proporcionadas através da relação de proximidade entre o museu e os seus públicos permitem alcançar objetivos como a formação em ciência e tecnologia e formação para uma cidadania cada vez mais informada e ativa.

Através deste modo de atuação, pautado pela imaginação e criatividade, o museu contribui para a formação e fidelização de públicos que vão participando nas diversas propostas de mediação: exposições permanentes e temporárias, biblioteca temática, visitas orientadas, oficinas, programas para famílias, programas comemorativos de datas especiais, projetos com comunidade museológica da cidade e com a comunidade de proximidade, newsletter semanal, redes sociais, ciclos de conversas…

Para a construção deste projeto, que se deseja cada vez mais abrangente em termos de conteúdos, de abordagens e de públicos, tem sido estratégico e fundamental o estabelecimento de parcerias com outros agentes sociais (públicos e privados). Ao envolvê-los nas diversas etapas de conceção, construção e dinamização dos espaços expositivos, o museu tem acesso a conhecimentos, materiais e experiências que não conseguiria reunir caso atuasse de modo isolado. O trabalho em rede e a constituição de parcerias são meios por excelência de abordagem a diferentes problemáticas e de construção de espaços expositivos atuais, interessantes e cativadores da atenção de públicos cada vez mais informados e exigentes em termos de técnicas de mediação para si dirigidas.

Através deste modo de agir o museu “abre-se” cada vez mais ao mundo sendo esta abertura uma manifestação do seu carater eminentemente ativo e criativo em prole do desenvolvimento da cultura.

Face a este cenário podemos afirmar que o Museu dos Transportes e Comunicações dá cumprimento ao artigo 42º da Lei Quadro dos Museus Portugueses nº 47/2004 o qual refere: “o museu promove a função educativa no respeito pela diversidade cultural tendo em vista a educação permanente, a participação da comunidade, o aumento e a diversificação dos públicos.” No próprio regulamento interno do museu esta função do museu está inscrita na definição do seu serviço educativo: “integra-se no projeto cultural do museu, acompanhando de uma forma ativa toda a programação e desenvolvendo práticas de mediação que têm como principal objetivo estabelecer e promover relações museu-comunidade. Assegura o acolhimento do público, acompanha visitas, organiza programas lúdico-pedagógicos autónomos ou integrantes do espaço expositivo, criando novas leituras e abordagens dos objetos e discursos apresentados.” Esta ação estabelece regularmente valores orientadores dos objetivos que se vão atualizando e adaptando à permanente mudança social: excelência, qualidade, inovação, comunicação, relevância, acessibilidade, inclusão, afetividade e prazer são alguns desses valores.

Assumindo o novo projeto expositivo COMUNICAR como um exemplo de mudança e transformação em contexto de crise, o museu arrisca no reforço e renovação da sua programação cultural e aposta claramente num conjunto de técnicas de mediação cultural que pretendem contribuir para o alargamento e fidelização de públicos. O acompanhamento e avaliação regular deste projeto permitirá reunir dados que conduzam a ajustamentos e melhorias no que diz respeito à adaptação às expetativas dos públicos e ao alcance dos objetivos estabelecidos previamente. Vamos então estar atentos a mais este desafio que o museu coloca a si mesmo e aos seus públicos.

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