Dimensão analítica: Cidadania, Desigualdades e Participação Social
Título do artigo: O papel da literacia mediática na promoção da competência crítica
Autora: Andreia Fernandes Silva
Filiação institucional: ISVOUGA – Instituo Superior de Entre Douro e Vouga
E-mail: a.silva@doc.isvouga.pt
Palavras-chave: literacia mediática, competência, capacidade crítica.
A União Europeia tem alertado no sentido de despertar os estados-membros para a necessidade de promover a literacia mediática como um factor de competitividade e de inclusão dos cidadãos. É neste contexto que surgiu a definição de literacia mediática enquanto capacidade para aceder aos media, de compreender e avaliar de modo crítico, bem como criar comunicações em diversos contextos [1]. Mais do que competências técnicas para o desempenho das diferentes atividades destaca-se a capacidade para usar os meios de comunicação com sentido crítico.
Em Portugal são de destacar o esforço de sistematização e de clarificação de conceito coordenados por Pereira e Pinto [2] e [3], as reflexões de Reia-Baptista [4] e as investigações de doutoramento que ensaiaram abordagens para a compreensão e medição dos níveis de literacia [5] e [6]. Duas dissertações de mestrado revelaram que: estudantes de ensino superior não estão familiarizados com o conceito [7] e existe uma relação entre as páticas mediáticas e o nível de competências de literacia mediática, onde influem, entre outros, factores como a idade e escolaridade, dados de uma investigação sobre os níveis de literacia de adultos inseridos no mercado de trabalho [8]. Apesar do caminho já iniciado, ainda há um longo itinerário a percorrer nomeadamente, no que concerne à medição e avaliação da competência, até porque a escolaridade é um elemento preponderante nas competências de literacia, embora tal não tenha correspondência em termos de níveis de literacia elevados [9].
A promoção de uma visão crítica dos meios de comunicação, que permita aos cidadãos usar estes meios de um modo consciente, pressupõe o conhecimento de noções como direitos de autor ou responsabilidade, exige a promoção da literacia mediática no contexto da comunicação comercial, nas questões relacionadas com o discurso publicitário, as obras audiovisuais e o ambiente em linha (UE, UNESCO), elementos preponderantes para a sobrevivência nos dias de hoje face ao manancial de conteúdos com os quais qualquer cidadão é bombardeado. Apesar dos levantamentos e análises já desenvolvidas em diversos países, ainda se está longe de alcançar uma produção científica percetível sobre a medição eficaz de níveis de literacia mediática dos cidadãos, nomeadamente, no caso nacional, sobre o que medir, como medir e com que instrumentos [10]. Nesta nova economia dos media, onde é evidente o duplo papel que cada cidadão pode assumir, como consumidor e como produtor de conteúdos, é de vital importância promover um conhecimento efetivo sobre o modo de funcionamento e/ou a capacidade descodificadora das mensagens mediáticas.
Considerada uma capacidade indispensável para o desenvolvimento de uma cidadania ativa, potenciadora da chamada economia do conhecimento, um estímulo para a competitividade nos setores da tecnologia e um garante do desenvolvimento de capacidades de análise crítica dos meios de comunicação, tal como foi preconizado pela declaração da Unesco, em 1982 [11], e posteriormente reiterado por recomendações da União Europeia, a literacia mediática é, nos discursos, considerada uma capacidade basilar da cidadania e uma das formas de evitar a chamada nova pobreza [12], faltando, porém, uma discussão e análise mais sistemática sobre o assunto.
Notas
[1] Recomendação da Comissão Europeia, de 20 de Agosto de 2009 sobre literacia mediática no ambiente digital para uma indústria audiovisual e de conteúdos mais competitiva e uma sociedade do conhecimento inclusiva, Jornal Oficial da União Europeia, disponível em <https://eurlex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L :2009:227:0009:0012:PT:PDF>
[2] Pinto, M.; Pereira, S. & Ferreira, T. D. (2011), Educação para os Media em Portugal: experiências, actores e contextos, Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, Universidade do Minho, Lisboa: Entidade Reguladora para a Comunicação Social.
[3] Pereira, S, Pinto, M. & Moura, P. (2015), Níveis de literacia mediática: estudo exploratório com jovens do 12º ano. Universidade do Minho. Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade.
[4] Reia-Baptista, V. (2009), Media literacy and Media Appropriations by Youth. In Euromeduc (Ed.), Media Literacy in Europe: Controversies, Challenges and Perspectives (181‑165). Bruxelas: Euromeduc.
[5] João, S. G. & Menezes, I. (2008), Construção e validação de indicadores de literacia mediática. Comunicação e Sociedade, 13, 55‑68.
[6] Lopes, P. (2014), Literacia mediática e cidadania: práticas e competências de adultos em formação na Grande Lisboa [Em linha]. Lisboa: ISCTE-IUL. Tese de Doutoramento. [Consult. 2019], disponível em www: http://hdl.handle.net/10071/8666 .
[7] Silva, S. (2010). Teorias da conspiração: Sedução e resistência a partir da literacia mediática. [Em linha], Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Dissertação de Mestrado, [Consult. em Março 2019], disponível em <http://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/55681>.
[8] Carvalho, A. (2015), Avaliação dos níveis de literacia mediática: Estudo exploratório com adultos no mercado de trabalho. Braga: Universidade do Minho, Dissertação Mestrado. [Consult. em Março 2019], disponível em < http://repositorium.sdum. uminho.pt /handle/1822/34309 >
[9] Para uma melhor compreensão do conceito de literacia ler: Ávila, P. (2008). A Literacia dos Adultos. Competências‑chave na Sociedade do Conhecimento. Oeiras: Celta e Ávila, P. et al. (2011). Programa Internacional para a Avaliação das Competências dos Adultos (PIAAC): Relatório de Atividades 2010, Lisboa: CIES‑ISCTE.
[10] Lopes, P. 2015, Avaliação de competências de literacia mediática: Instrumentos de recolha de informação e opções teórico-metodológicas, Media & Jornalismo “Educação para os media na era digital” 15, 27: 45 – 69.
[11] UNESCO (1982). Grünwald Declaration on Media Education, Grünwald.
[12] Castells, M. (2004), A Galáxia Internet. Reflexões sobre Internet, Negócios e Sociedade, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
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