Dimensão analítica: Família, Envelhecimento e Ciclos de Vida
Título do artigo: Parentalidade: contributo para uma definição do conceito
Autora: Margarida Mesquita
Filiação institucional: Instituto Superior de Ciências Sociais e Politicas – Universidade Técnica de Lisboa
E-mail: margaridamesquita@iscsp.utl.pt
Palavras-chave: parentalidade, envolvimento parental, co-parentalidade.
Não obstante o termo parentalidade esteja amplamente difundido, quer em Portugal quer noutros países de expressão portuguesa, seja na sociedade em geral, seja na própria comunidade científica, ele não consta nem nos dicionários de Língua Portuguesa, nem nos dicionários técnicos ou enciclopédias (em língua portuguesa) que consultamos. Os vocábulos mais próximos encontrados, foram os de parental, “relativo a parente ou a pai e mãe”, e de parentesco, “rede de relações interpessoais culturalmente reconhecidas através das quais os indivíduos se relacionam entre si por laços de filiação ou de matrimónio (…) expressa-se na consanguinidade, pela filiação, e na afinidade, pelo matrimónio” (1). Ambos os termos com significados demasiado amplos e pouco precisos sobre o que se entende habitualmente por parentalidade.
No entanto, o vocábulo é empregue em diversas situações: na designação de associações, de mestrados, de equipas de investigação, de serviços de informação, de eventos; em artigos na imprensa escrita e em revistas científicas; e, até, na legislação. Podendo concluir-se que se verifica um uso generalizado do conceito.
Perante a inexistência de uma definição do conceito, apesar do recurso frequente ao mesmo, alguns autores têm usado o vocábulo Parentalidade com um sentido próximo do dado pelos franceses a parentalité, e pelos ingleses a parenthood, designando simultaneamente paternidade e maternidade. Ana Paula Relvas (2) deu ao conceito de parentalidade o significado de relativo à função parental, ou seja “qualidade parental, maternidade ou paternidade”. Em nosso entender, o exercício dessa função parental implica, fundamentalmente, o envolvimento com os filhos e a relação com o outro elemento do casal nas questões que dizem respeito ao exercício da parentalidade. Sendo, por isso, de considerar o envolvimento parental e a co-parentalidade como as duas principais dimensões na operacionalização do conceito de parentalidade.
1. A dimensão envolvimento parental
O termo envolvimento remete para acto ou efeito de envolver-se, empenhamento, implicação, participação activa e empenhada. Enquanto o termo parental remete para relativo a mãe e pai, aos pais (3). Podendo, por isso, entender-se o envolvimento parental como o empenhamento do pai e da mãe no desempenho dos seus papéis parentais. Para Hall (4), o envolvimento parental pode ser caracterizado de várias formas, mas a mais frequente remete para o contacto directo com a criança e pode incluir responsabilidades e papéis. Podendo ser visto na perspectiva de “engagement” ou “interaction” mas podendo incluir “acessibility” e “responsability”, aspectos menos directos mas mais importantes do envolvimento.
Embora sendo uma dimensão do conceito de parentalidade, o envolvimento parental é, em si mesmo, um conceito. Numa análise, em vários estudos, da operacionalização do conceito de envolvimento paterno, Andrews, Luckey, Bolden, Whiting-Fickling, & Lind (5) verificaram que, independentemente das diferenças, prevaleciam geralmente três aspectos: “Engagement”, tempo despendido pelo pai/mãe em interacção com o filho (brincando, ajudando-o nos trabalhos de casa, por exemplo); “Accessibility”: presença do pai/mãe e disponibilidade (estar em casa ocupado mas podendo assistir o filho se necessário, por exemplo); e “Responsibility”: responsabilidade do pai/mãe pelo bem-estar e cuidados com a criança (participar nas decisões concernentes ao filho, providenciando recursos económicos, por exemplo).
Num trabalho de pesquisa sobre parentalidade (6), em que procuramos atender aqueles três aspectos e torna-los observáveis, consideramos oito dimensões no envolvimento parental: importância do filho na vida do pai e da mãe; conhecimento que o pai e a mãe têm sobre o filho; participação do pai e da mãe na educação, nos cuidados e nas tomadas de decisão em questões relacionadas com o filho; disponibilidade de tempo do pai e da mãe para o filho; e, acompanhamento do pai e da mãe ao filho nas actividades relacionadas com a escola e nos tempos em que não se encontra na escola.
2. A dimensão co-parentalidade
Embora em circunstâncias muito específicas isso possa não ocorrer, ao englobar simultaneamente duas funções, maternal e paternal, exercidas por actores diferentes, pai e mãe, o conceito de parentalidade implica habitualmente a existência de uma interacção entre ambos. Donde, a parentalidade implica habitualmente uma dimensão de co-parentalidade, isto é, de articulação, que corresponde ao modo como o casal parental (pai e mãe), no exercício das suas funções paternais e maternais, cooperam, isto é, agem conjuntamente com o outro ou interagem, em vista da realização de um fim comum, dependendo o sucesso, na obtenção desse objectivo, “de determinadas condições que a cooperação implica, tais como um consenso em relação aos fins a atingir, a existência de interesses comuns, a confiança recíproca dos actores, a elaboração em comum de um conjunto de regras, um acordo sobre o modo de coordenação das acções, a participação activa de todos os elementos, etc.” (1).
O termo relação remete para “comunicação, contacto ou ligação entre duas ou mais pessoas” e, mais especificamente, relação social para o “modo de interacção estabelecido entre pessoas segundo as posições que ocupam na organização social” (3). Por sua vez, parental, como já se disse, significa relativo a mãe e pai (os pais). Podendo, face ao exposto, definir-se co-parentalidade como a interacção, a ligação, estabelecida entre pai e mãe com vista ao exercício de um fim comum, a parentalidade.
Tendo em conta os reflexos no desenvolvimento dos filhos é pertinente considerar no conceito de co-parentalidade as seguintes dimensões: comunicação e coesão entre o casal parental, sobre aspectos relacionados com os filhos, e abertura externa (envolvendo os filhos).
Notas:
(1) Maia, R. L. (2002). Dicionário de Sociologia. Porto Editora.
(2) Relvas, A. P. (2004). O ciclo vital da família: perspectiva sistémica. Porto: Edições Afrontamento.
(3) Academia das Ciências Sociais. (2001). Dicionário da Língua Portuguesa. Verbo.
(4) Hall, S. S. (Dec/2005). Change in paternal involvement from 1977 to 1997: a cohort analysis. Family and Consumer Sciences Research Journal , vol.34 (2), pp. 127-139.
(5) Andrews, A. B., Luckey, I., Bolden, E., Whiting-Fickling, J., & Lind, K. A. (Jul/ 2004). Public perceptions about father involvement. Journal of Family Issue , vol.25, nº5, pp. 603-633.
(6) Mesquita, Margarida M. R. (2011). Parentalidade(s) nas famílias nucleares contemporâneas com crianças em idade pré-escolar: dimensões, desafios, conflitos, satisfação e problemas. Lisboa: Universidade Aberta.







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