Dimensão analítica: Família, Envelhecimento e Ciclos de Vida
Título do artigo: Qualidade de vida do idoso dependente: O apoio domiciliário
Autora: Sara Portovedo
Filiação institucional: Investigadora Júnior Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra
E-mail: saraportovedo87@gmail.com
Palavras-chave: Idosos dependentes, redes de apoio, apoio domiciliário, qualidade de vida.
O problema do envelhecimento passou de uma dimensão meramente pessoal, para uma dimensão social. Isto acontece, por um lado, porque o fenómeno do envelhecimento demográfico é comum às sociedades modernas e, por outro, porque se tem tornando uma das maiores preocupações das populações, exemplo disso é o facto de este ano ser o Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre Gerações.
As mudanças na estrutura da sociedade, a passagem de uma economia de subsistência e de um modelo de família alargada e integradora para uma economia de mercado em que prevalece um modelo de família nuclear provocaram uma situação que fragiliza a pessoa idosa [1]. Mas as mudanças na estrutura familiar não têm sido suficientes para institucionalizar os/as idosos/as. Em Portugal, a resposta às necessidades desta população continua a ser dada pela família.
Com o aumento progressivo da população idosa e os diversos tipos de dependência a ela associados, desencadeiam-se implicações sociais, económicas e políticas, e dentro destas encontram-se as implicações na qualidade de vida da população idosa [1]. É importante dar conta de como a qualidade de vida do/a idoso/a é influenciada pelo tipo de apoio recebido, na medida em que o aumento do tempo de vida nem sempre é acompanhado por um aumento da qualidade de vida, já que muitas vezes esta tende a degradar-se com o envelhecimento.
A qualidade de vida é uma experiência multidimensional que tem sido definida quer a nível macro (social, objetiva), quer a nível micro (individual, subjetiva) [1]. Ambos os aspetos são importantes, nomeadamente, porque a qualidade de vida reflete tanto as influências macrossociais como as características pessoais e a preocupação dos indivíduos.
As políticas de apoio à velhice são importantes para garantir a qualidade de vida dos idosos. As políticas de velhice são o conjunto das intervenções públicas ou ações coletivas que estruturam de forma explícita ou implícita as relações entre a velhice e a sociedade [2].
Mas em Portugal, persiste um Estado-Providência fraco que coexiste com uma sociedade-providência forte [3]. E, de facto, é esta sociedade-providência que leva à ideia de que as redes informais de solidariedade, sobretudo a família, são um elemento importante no apoio social, sobretudo, quando se fala na produção de bem-estar de uma sociedade.
Socialmente, a escassez de estruturas de apoio e as dificuldades cada vez maiores das famílias que desempenham a função de cuidar dos/as seus/suas idosos/as têm consequências afetivas e sociais na vida dos/as idosos/as. Por seu turno, economicamente, o aumento deste grupo populacional cria encargos não apenas às famílias mas também ao Estado. É, por isso, importante considerar o efeito das redes sociais na saúde e na mortalidade e, sobretudo, considerar os seus efeitos no próprio bem-estar psicológico e na satisfação com a vida [4].
Os idosos e as idosas são muitas vezes institucionalizados/as por loucura, por doença, por pobreza, por solidão e até por autorrejeição. Os lares são uma das soluções para os idosos e idosas dependentes. E não podemos esquecer é que é diferente prestar cuidados a um/a idoso/a com baixo nível de dependência e a um/a idoso/a com elevado nível de dependência, porque as exigências colocadas aos prestadores de serviços são diferentes. Todavia, hoje, esta solução é substituída por “centros de dia”, por “centros de convívio”, por “residências ou lares de terceira idade” e por organizações de serviços de apoio domiciliário [5].
Tendencialmente, as políticas de terceira idade convergem para a manutenção do idoso, o mais possível na sua residência. Por exemplo, recorrendo ao apoio domiciliário. Este apoio tem por objetivo prestar alguns serviços na própria residência do utente, sendo uma resposta que continua a expandir-se, permitindo ao idoso/a ficar mais tempo na sua residência e poupar algum dinheiro.
É nos finais dos anos 90 que os serviços de apoio domiciliário conhecem o seu alargamento para o domínio da saúde. E é neste sentido, que hoje podemos falar do apoio domiciliário integrado, um apoio que une a resposta social à resposta da saúde [1].
O recurso aos serviços institucionais, especificamente, ao apoio domiciliário deve-se a fatores que se relacionam e articulam, como a perda temporária ou definitiva de autonomia e a indisponibilidade familiar. O lugar da pessoa idosa na família fica comprometido quando esta deixa de ter um papel ativo e passa a necessitar de um apoio efetivo [5].
Mas as soluções de apoio a idosos continuam a ser muito deficientes, nomeadamente no que se refere a instituições de apoio. Na falta destas instituições, os familiares e vizinhos vão-se encarregando de as substituir. O/a idoso/a mesmo sozinho/a e até acamado/a é muitas vezes mantido na sua residência pelos familiares ou pelos vizinhos [6]. A família continua a desempenhar um importante papel no que refere ao apoio a idosos/as. Embora, atualmente, a atividade profissional condicione a dedicação dos familiares aos seus entes dependentes de apoio. Estas mudanças nem sempre se têm apresentam como suficientes para institucionalizar os/as idosos/as.
Para concluir, em Portugal, há o sentimento de que o dever de cuidar dos/as idosos/as continua a ser um dever dos/as filhos/as. A obrigação familiar continua a ser a solução privilegiada para garantir uma melhor qualidade de vida à população envelhecida. A institucionalização é, assim, o último recurso da população idosa. Não podemos, porém, esquecer que muitas vezes a causa disso é também a falta de conhecimento que se tem das instituições e o medo que os/as idosos/as sentem de entregar o pouco dinheiro que pouparam ao longo da vida a estranhos [6].
Notas:
[1] Sardinha, Maria Leonor (2008), “Qualidade de vida em idosos institucionalizados”, Tese de Mestrado em Psicologia. Coimbra: Faculdade de Psicologia da Universidade de Coimbra.
[2] Fernandes, Ana Alexandre (1997), Velhice e sociedade. Oeiras: Celta.
[3] Santos, Boaventura Sousa (1991), “State, Wage Relations and Social Welfare in the Semiperiphery: The Case of Portugal”, Oficina do CES, nº 23.
[4] Paúl, Constança (2005), “Envelhecimento ativo e redes de suporte social”. Revista de Sociologia da Faculdade do Porto, 15, 275-287.
[5] Pimentel, Luísa (2001), O lugar do idoso na família: contextos e trajectórias. Coimbra: Quarteto.
[6] Hespanha, Maria José Ferros (1993), “Para além do Estado: A saúde e a velhice na Sociedade-Providência”, in Boaventura de Sousa Santos (org.), Portugal: Um retrato singular. Porto: Afrontamento.