Dimensão analítica: Cidadania, Desigualdades e Participação Social
Título do artigo: O papel das redes sociais no fomento da cidadania e da participação social
Autora: Marta Serra Lima
Filiação institucional: Instituto de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto
E-mail: martalima999@gmail.com
Palavras-chave: redes sociais, cidadania, participação social.
Twitter, Facebook, Google +. Tweet, retweet, hashtag, post, ticker, like, círculo, stream, huddle. Conceitos como estes deixaram de pertencer ao mundo do desconhecido e passaram a fazer parte do dia-a-dia de milhões de pessoas que utilizam hoje as redes sociais. De acordo com dados da Marktest, em Portugal, o número de pessoas que acedeu, em 2011, às redes sociais rondou os 3 milhões. Estima-se que entre 2008 e 2011, este número tenha duplicado, passando de 17,1% para 35,8% dos residentes em Portugal continental com 15 ou mais anos [1].
De que forma este crescimento se repercutiu num fortalecimento da sociedade civil e num aumento da participação social? Ainda será cedo para avaliar o real impacto das redes sociais nestas esferas, dada a sua história relativamente recente. Não obstante, vários são os casos que poderão servir como ilustração da influência das redes sociais enquanto incitadoras da cidadania e da participação social aos mais variados níveis e com os mais diversos propósitos. A onda de solidariedade depois do sismo no Haiti, em 2010, a “Primavera Árabe” ou o protesto da “Geração à Rasca”, a 12 de Março de 2011, em Portugal, constituem-se como exemplos paradigmáticos desta influência.
No caso do sismo no Haiti, o número de internautas a aderir aos grupos e comunidades de apoio entretanto criados no Facebook, nas primeiras horas depois do sismo já rondava as centenas, número este que cresceu exponencialmente, um pouco por todo o mundo, nos dias que se seguiram à tragédia. A divulgação de mensagens de apoio, bem como a captação de voluntários e de donativos para organizações humanitárias constituíram-se como os objectivos primordiais destes grupos no Facebook. O Twitter também não ficou imune a estes movimentos, materializados em apelos a doações, em especial por parte de personalidades públicas.
Embora o impacto real deste tipo de iniciativas seja difícil de medir neste caso em concreto, o mesmo não acontece com aquela que ficou conhecida como a “Primavera Árabe”. O conjunto de protestos despoletados no final de 2010, em vários países do Médio Oriente e do Norte de África, depois da imolação de Mohamed Bouazizi , ganhou uma força imprevista com a utilização das redes sociais e rapidamente se transformou num exemplo paradigmático da influência destas na formação de um movimento efectivo de mobilização e de participação social. A convocação de greves e de manifestações de protesto, bem como a divulgação de informações que revelaram as tentativas de repressão e/ou de censura na Internet por parte dos Governos de países como o Egipto, a Tunísia e a Líbia, com o objectivo de promover reformas políticas e de levar à queda de Governos ditatoriais, através das redes sociais trouxe à luz do dia o relevo que estas têm enquanto veículos de fomento da mobilização dos seus utilizadores. Neste caso, o Twitter desempenhou um papel que não poderemos classificar como tendo sido decisivo, mas que certamente foi fundamental neste processo mobilizador.
No caso português, a utilização e a influência das redes sociais como instrumento de mobilização e de participação dos seus utilizadores tornaram-se especialmente visíveis na mobilização do dia 12 de Março de 2011. No início de 2011, um grupo de quatro amigos criou um desafio no Facebook: realizar uma manifestação contra a precariedade e o estado geral do país. O movimento, anunciado como “apartidário, laico e pacífico”, rapidamente ganhou seguidores e culminou numa das maiores manifestações populares dos últimos anos em Portugal, levando centenas de milhares de pessoas, de diferentes gerações, às ruas de dez cidades portuguesas e não só na capital, como inicialmente previsto. O protesto da “Geração à Rasca”, como ficou conhecido, transformou-se num exemplo da força da sociedade civil, numa inspiração para movimentos similares noutros países, como é o caso do movimento “Democracia Real Já”, em Espanha, e num reflexo do peso das redes sociais nos processos de mobilização e de participação social.
Estes três exemplos permitem-nos perceber a influência que as redes sociais poderão ter nestes processos, bem como na estimulação de uma cidadania mais activa. Não obstante, importa ter em linha de conta que as redes sociais, por si só, não deverão ser vistas como veículo principal de mobilização, mas antes como um suporte de determinados movimentos, permitindo a sua expansão e o seu fortalecimento dado o seu carácter mais rápido e espontâneo, quando comparados com os meios de comunicação social “tradicionais”.
Notas
[1] Marktest (2011), Os Portugueses e as Redes Sociais.
Pingback: 2ª Série de 2012 de Artigos de Opinião (abril de 2012) | Plataforma Barómetro Social
É cada vez é mais frequente o uso das redes sociais para mobilização de atividades coletivas e isso tem servido para avaliarmos o poder das redes socias. Aqui no Brasil, mais precisamente em Teresina, capital do Estado do Piauí, tivemos em agosto de 2012 uma grande mobilização nas ruas das cidades por parte de estudantes secundarista contra o aumento dos preços das passagens de onibus coletivos imposto pela Prefeitura Municipal de Teresina-PMT que mobilizou centenas de estudante nas rusa e avenidas da capital, o movimento ficou conhecido como “contraoaumento” em contrapartida a resistência da PMT foi enorme que levou milhares de militares as ruas. Mas ao final os estudantes com vários feridos conseguiram barrar o aumento das tarifas dos ônibus coletivos e conseguiram a intergração e o congelamento dos preços.