A importância da formação prática em contexto de trabalho para a integração no mercado de trabalho

Dimensão analítica: Mercado e Condições de Trabalho

Título do artigo: A importância da formação prática em contexto de trabalho para a integração no mercado de trabalho

Autor: José Bourbon

Filiação institucional: IPTrans – Instituto Profissional de Transportes

E-mail: jose.bourbon@iptrans.com.pt; www.josebourbon.pt

Palavras-chave: formação em contexto de trabalho, integração profissional.

Na vida, é sempre importante ser capaz de separar o essencial do acessório.

Por esse motivo, no tema aqui proposto, respondamos à seguinte questão prévia: para que serve o ensino / educação?

Proposta de resposta: serve para a integração socioprofissional dos jovens.

Então, o que é essencial, para que essa integração se verifique?

Para responder a esta segunda pergunta, e no âmbito mais específico do (chamemos-lhe assim) Ensino e Formação Profissional Dual, atente-se na preocupação do Conselho Nacional de Educação (CNE) com a dicotomia entre a formação profissional e a científica e cultural e, sobretudo, com o peso quantitativo que esta segunda componente deve preservar. Considera o CNE que esta última é muito “necessária para a qualificação dos alunos e para a sua adaptação à variabilidade das condições do mercado de emprego” [1].

Embora ninguém discorde desta afirmação, a questão é, sobretudo, de qualidade.

Se analisarmos o referencial de formação, por exemplo, do curso profissional de Técnico de Transportes [2], verificamos que a componente sociocultural representa 1.000 horas, a científica 500 horas, a Tecnológica 1.075 horas e a Formação em Contexto de Trabalho 600 a 840 horas.

Não nos parece que valha a pena discutir a questão da quantidade.

O que é fundamental é que a formação se centre nos objetivos da aprendizagem os quais, em síntese, deverão garantir uma dupla vertente: uma, mais geral, de preparação do aluno para os desafios da integração socioprofissional; e, outra, mais específica, que procure dar resposta à aquisição das competências da profissão a que o curso procura responder.

A integração socioprofissional, no caso da componente sociocultural, será, certamente, particularmente trabalhada na área de Integração e, também, na Educação Física.

No entanto, estando em causa as competências transversais – o saber ser ou estar –, é vital que todos os docentes, no contexto do módulo que ministrem, tenham a capacidade de ir contribuindo para o reforço dessas mesmas competências.

Em conclusão: não é necessário muito tempo para a formação científica e cultural. O que é necessário é que toda a formação, tecnológica e de contexto de trabalho incluídas, saiba contribuir para criar no aluno a capacidade de “adaptação à variabilidade das condições do mercado de emprego”.

Associado ao tema anterior, surge a questão do “reforço da componente de Formação em Contexto de Trabalho”[3]. O CNE manifestou reservas a esta posição, nomeadamente devido ao facto de que “a Formação em Contexto de Trabalho realizada em empresas carece, antes de mais, da existência de empresas com dimensão, recursos humanos e materiais qualificados, adequados e disponíveis para o acolhimento, enquadramento e avaliação de jovens em formação, de modo a cumprir os objetivos formativos, satisfazer os requerimentos da avaliação e a não perturbar a situação do mercado de trabalho”. E acrescenta que se encara “com apreensão a obrigação de estender esta formação a áreas geográficas e sociais em que porventura não estejam reunidas as condições para a sua concretização”.

Com efeito, como referido atrás, nem todas as empresas (em sentido lato) têm condições para proceder ao adequado acolhimento dos alunos / formandos, nomeadamente por longos períodos.

Na minha opinião, descemos agora a um problema central, o do modelo dirigista do nosso sistema educativo. Porque não definir um mínimo e um máximo de horas, nomeadamente entre a componente tecnológica e a da formação em contexto de trabalho? Dessa forma, cada instituição educativa adaptaria o referencial de formação às necessidades e capacidades do mercado em que se inserisse, mais concretamente, dos agentes económicos servidos, num determinado ciclo de formação.

A experiência do IPTrans – Instituto Profissional de Transportes – permite-nos esclarecer que o que é dado nas empresas é uma experiência de contexto de trabalho, na qual os jovens alunos têm oportunidade de pôr em prática alguns dos ensinamentos transmitidos na escola profissional bem como de aprofundar as competências transversais. Em síntese, as empresas reforçam-lhes os saberes-fazer e saberes-ser/estar.

Não tenho, por isso, grandes dúvidas em afirmar que, sendo, obviamente, muito importante a valorização das competências transversais, no fim, para que a “coisa” funcione, a resposta está na formação prática em contexto de trabalho (FPCT). É aí que a empresa vai ter oportunidade de conhecer o aluno, de o formar mas também de avaliar as suas potencialidades como futuro colaborador da organização.

Embora num contexto um pouco diferente mas, para se perceber a importância do contexto de trabalho, recordo, muitas vezes, o caso de um aluno de um curso de especialização tecnológica ministrado no IPTrans, de cerca de 45 anos de idade, desempregado, o qual, depois da FPCT, a qual correspondeu aos interesses do aluno e às necessidades da empresa (na área da gestão da manutenção), foi convidado para trabalhar nessa organização.

A FPCT deve ser, assim, concebida pela entidade educativa/formativa, começando por perceber os interesses e expetativas do aluno. Depois, há que procurar, em simultâneo, encontrar uma empresa cujas necessidades sejam compatíveis… Um trabalho nem sempre fácil mas que deve ser otimizado, por forma a reforçar o sucesso das aprendizagens e das possíveis integrações profissionais.

Há alguns anos atrás, um destacado empresário do setor dos transportes e logística alertava para a importância da formação e do ensino serem orientados para a qualificação para as profissões do setor ou, seja, para as suas competências ou tarefas.

Creio que esta observação vai ao “cerne da questão”: precisamos de qualificar, sem dúvida, mas de o fazer de forma orientada, de maneira a darmos respostas às necessidades das empresas e dos setores, atuais ou futuras.

Notas:

[1] Ponto 10 do Parecer n.º 5/2014 – Parecer sobre o Projeto de Diploma que Aprova o Regime Jurídico do Ensino e Formação Profissional Dual, in Diário da República, 2.ª série — N.º 119 — 24 de junho de 2014, página 16367.

[2] http://www.iptrans.com.pt/oferta-formativa/jovens/cursos-profissionais/840252/default.res/840252_RefCP.pdf

[3] Ponto 25 do citado Parecer n.º 5/2014, página 16368.

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