O Microcrédito como Apoio à Criação de Auto-Emprego e à Inclusão Social

Dimensão analítica: Mercado e Condições de Trabalho

Título do artigo: O Microcrédito como Apoio à Criação de Auto-Emprego e à Inclusão Social

Autora: Marta Mucha

Filiação institucional: Técnica de microcrédito na Associação Nacional de Direito ao Crédito (ANDC)

E-mail: marta.mucha@microcredito.com.pt

Palavras-chave: microcrédito, inclusão social e económica.

O microcrédito é na sua essência uma forma de financiamento criado a pensar em todos aqueles que querem concretizar uma boa ideia de negócio, mas não conseguem capital para a implementar porque não têm garantias para oferecer à Banca estando, portanto, excluídos do crédito bancário normal. Contudo, como técnica de microcrédito, vejo neste instrumento mais do que um incentivo à dinamização do mercado de trabalho pela via da criação de auto-emprego, pois não é rara a integração de outros colaboradores, tanto pela contratação apoiada em programas específicos do IEFP, como pela colaboração voluntária de familiares reformados ou desocupados. Há que sublinhar, igualmente, a criação de redes de colaboração entre empreendedores que recorreram à solução do microcrédito e que se encontram em diferentes fases do desenvolvimento da sua iniciativa económica e do seu compromisso com Banco. O microcrédito ambiciona ser uma via para o acesso ao crédito e a inclusão económica, mas também proporciona novas dinâmicas de integração familiar em prol de um projeto comum e introduz o empreendedor em novos circuitos de colaboração institucional e de divulgação do seu negócio, revelando-se um caminho para a inclusão social por via do empreendedorismo e da inovação.

O grande desafio de um técnico de microcrédito é o de intervir de forma ajustada no combate ao desemprego como principal causa da espiral de exclusão económica e social que ataca a generalidade dos setores de atividade, se estende a níveis de preparação profissional e académica cada vez mais elevados e não escolhe género nem idade. Não raro numa situação fragilizada, nem todos os candidatos estão preparados para os desafios do empreendedorismo e para a responsabilidade de assumir um crédito, mesmo com o apoio e a mediação do técnico antes e após o arranque do negócio. Num primeiro momento, num esforço conjunto do técnico com o proponente, há que verificar se estão reunidas as condições necessárias para este último se lance num mercado onde, não raras vezes, se vai infiltrando ao ensaiar a sua proposta de negócio numa lógica de informalidade. A verificação das capacidades do empreendedor para lidar com o mercado que pretende conquistar e a avaliação da viabilidade financeira do negócio, muitas vezes sujeito a ciclos de sazonalidade, são condição sine qua non para o Banco optar pela atribuição do microcrédito, seguindo-se a formalização de um contrato de crédito e a abertura de atividade nas Finanças.

No contexto atual, a sobrevivência dos negócios criados com recurso ao microcrédito durante os primeiros anos de vida é um desafio exigente para o empreendedor, sobretudo se não puder contar com apoios financeiros complementares do próprio, de familiares e amigos ou mesmo do Estado. O apoio que o técnico de microcrédito pode prestar nesta fase traduz-se não só num acompanhamento passo a passo do negócio no momento do arranque, mas também na intermediação com o Banco que concedeu o microcrédito e no apelo à introdução de ajustamentos de capital e/ou prazo de pagamento do mesmo (em caso de necessidade) e ainda no encaminhamento para técnicos de outras instituições especializadas em questões como os licenciamentos, consultoria jurídica e outras matérias em que Gabinetes de Apoio ao Empreendedor de municípios e Associações Empresariais locais têm lugar de destaque. A decisão pela criação do seu próprio posto de trabalho/ próprio negócio depende também da confiança depositada numa rede de instituições que assume ter na sua retaguarda.

Muhamad Yunus, mentor primordial da solução do microcrédito que já ajudou a tirar milhões de pessoas da pobreza extrema e exclusão, sublinha que “ o crédito é uma poderosa arma socio-económica”[1] Porquê? Porque a promoção do direito ao crédito abre caminho à promoção do auto-emprego, facilitando o acesso gradual a um rendimento sustentado a uma melhor qualidade de vida e elevando os níveis de auto-estima e realização profissional e pessoal dos que haviam sido rejeitados. A ideia de um microcrédito associado a um acompanhamento personalizado por parte de um técnico permite que este caminho se faça com passos mais firmes até à saída de cena deste último, à medida que cada empreendedor vai (re)conquistando o seu lugar no mercado de trabalho e na sociedade.

Esta entrada foi publicada em Economia, Trabalho e Governação Pública com as tags , . ligação permanente.

Uma Resposta a O Microcrédito como Apoio à Criação de Auto-Emprego e à Inclusão Social

  1. R.L. diz:

    Eis um interessante texto que dá pistas para se entender a complexidade a montante e a jusante dos mecanismos do Microcrédito. Quer dos seus resultados, não meramente individuais no sujeito deste, quer no que respeita às competências alargadas que o técnico deve possuir para poder incentivar e apoiar ao longo de um certo período, mais ou menos longo, o empreendedor. Numa sociedade deprimida não é de contar que as pessoas se mobilizem com facilidade, que é o caso português actual. Assim, o papel do técnico tem de ser reforçado e apoiado. Será que há o suficiente conhecimento público deste tão interessante mecanismo? Porventura não. Porventura deveria ser mais publicitado.
    R.L.

Os comentários estão fechados