N.º da Publicação: 4ª Série de 2015 (dezembro 2015)
Dimensão analítica: Família, Envelhecimento e Ciclos de Vida
Título do artigo: Emigração da geração jovem em Portugal: Impacto económico e emocional da migração jovem nos idosos
Autora: Maria Antonieta Costa e Maria da Graça Correia da Silva
Filiação institucional: Teia Amiga Associação
E-mail: mantonieta@netcabo.pt; maria.graca@netcabo.pt
Palavras-chave: Emigração jovem, crise económica e social.
Portugal tem sido, desde o século XV, um país de emigrantes. A emigração temporária ou permanente é um fenómeno espontâneo que caracteriza a vida da humanidade. Segundo as estimativas das Nações Unidas e do Banco Mundial, em 2013 [1], Portugal surge como o país da União Europeia com maior percentagem de emigrantes. O Relatório Estatístico do Observatório da Emigração de 2014 confirma o elevado número de portugueses emigrados desde 2007, como indica o quadro abaixo.
Quadro 1 – Emigração portuguesa pós-crise: saídas anuais estimadas, 2007-2013
| Ano | Saídas |
| 2007 | 90,000 |
| 2008 | 80,000 |
| 2009 | 75,000 |
| 2010 | 70,000 |
| 2011 | 80,000 |
| 2012 | 95,000 |
| 2013 | 110,000 |
Fonte: Pires (2014). Cálculo do autor em dados do Observatório da Emigração.
In Relatório Estatístico 2014, Observatório da Emigração, p. 36 [226]
A emigração portuguesa é resultado de fenómenos cíclicos [2]: mais ou menos segurança tendo em atenção as Guerras Mundiais; mais ou menos aceitação de imigrantes de outros países em função da sua necessidade de trabalho manual; crises económicas nos países que recebem os imigrantes, que originaram políticas de contenção do número de estrangeiros, nomeadamente devido ao intenso fluxo de imigrantes que acabam por causar uma saturação no mercado de trabalho; crises económicas no nosso país.
Os anos 60 e início dos anos 70 foram caracterizados por uma forte emigração portuguesa para outros países da Europa, não só para trabalhar, mas também para escapar à guerra colonial. Os principais motivos para a saída da população nesses anos foram: o atraso económico do nosso país e os baixos salários vigentes, o regime ditatorial que durou 48 anos, a guerra colonial, a insuficiência de recursos e os baixos padrões de vida da população.
Desde 2007, o país sofre uma nova onda de emigração devido à crise económica, na qual grande parte da emigração portuguesa se dirige, principalmente, para outros países da Europa. Segundo o Instituto Nacional de Estatística e o Observatório da Emigração, em 2013 [3] o destino mais escolhido pelos emigrantes portugueses foi o Reino Unido e, de seguida, a Suíça.
Quadro 2 – Principais destinos da emigração portuguesa, 2013
| País | Entradas |
| Reino Unido | 30,121 |
| Suíça | 14,388 |
| Alemanha | 11,401 |
| Espanha | 5,302 |
| Luxemburgo | 4,590 |
| Brasil | 2,913 |
| Bélgica | 2,812 |
| Holanda | 2,079 |
| EUA | 918 |
| Noruega | 815 |
Nota: Os dados da Suíça e da Bélgica referem-se a 2012
Fonte: Quadro elaborado pelo Observatório da Emigração, valores dos institutos nacionais de estatística (ausência de dados recentes fiáveis para França, Angola e Moçambique).
In Relatório Estatístico 2014, Observatório da Emigração, p. 36 [226]
Assim, apesar de Portugal ter sido nas últimas décadas um país reconhecido pela imigração, resultado das suas ex-colónias e da Europa de Leste. Desde 2009, após acentuação da crise económica, tornou-se um país fonte de emigração, nomeadamente de jovens qualificados e sem a menor ideia de retornarem ao seu país, criando um problema de fuga de cérebros e, perdendo-se para sempre o investimento que o país tem feito na sua formação, aumentando o buraco financeiro da Segurança Social e a estrutura do país.
Vários departamentos universitários têm estudado o fenómeno, bem como órgãos oficiais, como o Instituto Nacional de Estatística e o Observatório da Emigração, apresentando uma caracterização da emigração e do emigrante português ao longo da última década com base em dados de fontes nacionais e internacionais, onde elencam 110.000 portugueses emigrados em 2013 [4]. Estes emigrantes portugueses na sua maioria têm idades compreendidas entre os 25 e os 64 anos, as mulheres igualam os homens em número de qualificações e a sua adaptação ao país de destino é vista como algo positivo.
Como resultado desta emigração verificou-se que os pais destes jovens emigrantes, permanecem no país, muitas vezes isolados e em condições socioeconómicas muito difíceis.
Portanto, o envelhecimento, embora seja uma fase da vida que é natural para todos os seres humanos, não é vivido da mesma forma por todos. Além dos fatores genéticos, deve notar-se que este processo não é o mesmo para o feminino e para o masculino, estando sozinho ou em família, com filhos ou sem eles, em áreas urbanas ou em áreas rurais. Neste sentido, denota-se a vulnerabilidade a que estes pais dos emigrantes estão expostos com esta vaga de emigração, nomeadamente a sua qualidade de vida económica, social, cultural e emocional.
Os mais velhos deixados para trás são retratados no discurso académico e político como um “grupo vulnerável” de dependentes passivos, marginalizado pela modernização e abandonados pelas suas famílias.
Enquanto os filhos adultos emigram, os pais e parentes próximos ficam isolados no seu país de origem. Tal fenómeno, designado por “síndrome do ninho vazio” [5] não afeta apenas os pais que vivem em áreas rurais, tanto quanto se pensava anteriormente, mas sim todos os que pela primeira vez sentem a tristeza e solidão de verem os seus filhos emigrarem.
Em suma, esta vaga de emigração jovem deixa Portugal numa situação difícil, nomeadamente no setor económico e social. É premente a consciencialização do impacto económico e social da emigração jovem nos idosos a fim de que se apliquem estratégias de empowerment, sobretudo no setor social, ajustadas a esta nova realidade, para que os idosos vivam a sua velhice com qualidade de vida económica, social, cultural e emocional.
Perante este problema social e económico a Teia Amiga Associação, cuja missão [6] é «Integrar parcerias, partilhando práticas de formação susceptíveis de melhorar a metodologia a utilizar nos domínios educativo e pedagógico, tendo em vista reduzir o isolamento e a incapacidade, melhorar a situação sócio-económica, aliviar o sofrimento humano e promover a inclusão em situação de risco social», organizou um workshop sobre o tema: Emigração da geração jovem em Portugal – Aspetos positivos e negativos para as famílias: impacto económico e emocional da migração jovem nos idosos, enquadrado num projeto europeu intitulado Advanced trainning programme on transnational families support, ao abrigo do Lifelong learning programme – Programa Grundtvig.
Este projeto teve como público-alvo profissionais que lidam com a emigração portuguesa nos dias atuais e suas consequências sobre os idosos, nomeadamente profissionais da área social. Neste workshop privilegiaram-se metodologias, dinâmicas participativas com vista à discussão, apresentação de possíveis soluções e estratégias de empowerment, e promoção de apoios sociais ajustados às diferentes realidades junto das pessoas idosas. Esta abordagem assentou na construção coletiva do conhecimento sobre este fenómeno e a sua interpretação, sedimentando-se os seus significados.
Como resultado desta análise verifica-se que as repercussões da emigração jovem nos idosos são de várias formas nefastas, nomeadamente ao nível da sua qualidade de vida social, cultural, económica e emocional. Constata-se que alguns idosos que permanecem longe dos filhos permanecem em completo isolamento e, na maioria das vezes, precisando de vários tipos de apoio. Contudo, a intervenção das organizações do setor social que trabalham na proteção do idoso são primordiais a responder às suas necessidades.
Notas
[1] Portugal é hoje o país da União Europeia com mais emigrantes, Disponível em [Consult. 12 Nov 2015]:http://www.mundoportugues.org/article/view/62309
[2] Migrações, Disponível em [Consult. 12 Nov 2015]:http://www.prof2000.pt/users/elisabethm/geo10/migra1.htm
[3] Relatório Estatístico 2014 sobre a Emigração Portuguesa, produzido pelo Observatório da Emigração, http://www.observatorioemigracao.secomunidades.pt/np4/?newsId=3924&fileName=OEm_EmigracaoPortuguesa2014_RelatorioEst.pdf
[4] Pires, R. P., Pereira, C. & Santo, I. E. (2014), Emigração Portuguesa na União Europeia. Dados dos Censos de 2011, Ficha 2014.01, Lisboa, Observatório da Emigração, Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), CIES-IUL e DGACCP. URL: http://www.observatorioemigracao.pt/np4/1203
[5] Barber CE. Transition to the empty nest. In: Bahr SJ, Peterson ET. Aging and the Family. 1989:15-32.
[6] Associação Teia Amiga, Disponível em [Consult. 12 Nov 2015]: http://teiaamiga.wix.com/teia
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