Dimensão analítica: Cidadania, Desigualdades e Participação Social
Título do artigo: Ser voluntário do Serviço Voluntário Europeu em Portugal
Autor: Nick Adriaans
Filiação institucional: Equação – Cooperativa de Comércio Justo
E-mail: nickadriaans@gmail.com
Palavras-chave: voluntariado, Comércio Justo
Chamo-me Nick, tenho 23 anos, sou neerlandês, e estou em Portugal na condição de voluntário do programa Serviço Voluntário Europeu, que faz parte de um programa da União Europeia chamado “Youth in Action” [1]. Este programa cria a oportunidade para que jovens europeus possam desenvolver actividades de voluntariado noutro país europeu pelo tempo máximo de 12 meses. O meu Serviço Voluntário Europeu tem lugar numa organização de promoção de Comércio Justo (Equação Comércio Justo, de Amarante), mas estou a colaborar na promoção deste tipo de comércio na cidade do Porto.
Considero que o voluntariado começa no momento em que um voluntário escolhe qual a actividade em que quer participar. A meu ver, essa é uma escolha egoísta. Egoísmo nem sempre significa algo mau. No caso do voluntariado, o egoísmo quer dizer que o voluntário quer aprender algo novo e conhecer pessoas novas, em seu próprio benefício. Portanto, a primeira motivação de um voluntário é para aprender algo novo. Mas também há outra componente, menos egoísta, que tem a ver com a segunda motivação para fazer algo voluntariamente: ajudar as pessoas ou auxiliar uma organização. A combinação destes dois momentos é importante para exercer um bom serviço de voluntariado. Mas, para que a experiência seja ainda melhor, julgo ser necessário outro factor: a paixão. Se o voluntário é mesmo apaixonado pelo trabalho que faz, a probabilidade de ser bem sucedido na experiência voluntária será elevada.
Fazer o Serviço Voluntário Europeu em Portugal está a ser muito bom para mim. Cheguei aqui em Setembro do ano passado e vou a estar aqui por 12 meses, até Agosto de 2012. Escolhi o projecto da Equação porque gosto muito do Comércio Justo e queria aprender mais sobre este tema. Portugal parecia-me um país muito interessante, e poder concretizar o meu Serviço Voluntário Europeu na cidade do Porto foi também uma razão importante para escolher este projecto, que consiste em trabalhar na Casa das Associações do Porto onde a Equação é responsável pela gestão do espaço do bar, onde se servem produtos de Comércio Justo, biológicos e vegetarianos. Mas também se promovem eventos culturais (workshops, exposições). Outra componente deste projecto é o trabalho na loja de Comércio Justo no Parque de Cidade do Porto. Para as organizações portuguesas, pelo menos aquelas com quem tenho mantido contacto, receber voluntários é uma ajuda muito boa, que confere toda uma nova dimensão à organização, permitindo-lhe desenvolver mais actividades e projectos.
Em Portugal, o Serviço Voluntário Europeu não é muito conhecido, mas parece-me que nos Países Baixos o é ainda menos. Quando, em conversa com outras pessoas, menciono que sou voluntário europeu aqui no Porto, há geralmente duas reacções diferentes, que contrastam entre si, e que reflectem diferenças geracionais: os jovens acham que é muito interessante, e muitos referem que também gostariam de experienciar algo parecido. A primeira reacção de pessoas mais velhas vai no sentido de considerarem que, como não sou daqui, como não sou português, estou a tirar emprego aos jovens portugueses. Julgo que estas pessoas não percebem porque venho trabalhar gratuitamente para Portugal quando aqui já há tantos jovens sem emprego. Não deixam de ter alguma razão, mas também é assim que muitos jovens de Portugal vão a outros países para fazer voluntariado. Afinal, trata-se de um projecto de intercâmbio de jovens, uma oportunidade de enriquecimento pessoal e cultural, e não uma medida de promoção de emprego.
Viver em Portugal é muito diferente daquilo a que estava acostumado. Já vivi em Espanha, mas Portugal é muito diferente para mim, algo que não esperava. Não tinha muito conhecimento sobre a realidade portuguesa, nem sobre os costumes e hábitos dos portugueses. Durante os meus tempos de voluntariado, de trabalho e lazer, estou normalmente entre portugueses. Considero que a característica mais típica do povo português é estar sempre pronto a ajudar. Seja qual for a situação, os portugueses conseguem sempre encontrar tempo para ajudar os outros, e deixam todas as suas tarefas para ajudar. Adoro isso!
Julgo que fazer o Serviço Voluntário Europeu em Portugal não seja muito diferente do que fazer isto noutro país (falando apenas do projecto em si, e não no modo de vida). A crise económica tem afectado o projecto em que estou inserido, pois cria-lhe muitas limitações. Há dias em que é mesmo um desafio ser voluntário no Comércio Justo. Também é verdade que há muitos dias em que fazer voluntariado no Comércio Justo é muito bom e mesmo interessante. Por exemplo, quando tenho a oportunidade de apresentar e explicar às pessoas o que é o Comércio Justo, ou quando tenho oportunidade de falar sobre sustentabilidade e produtos biológicos. Gosto muito do meu trabalho na loja de Comércio Justo, especialmente quando se verifica que as vendas na loja aumentam como resultado do trabalho que desenvolvo. É muito gratificante!
A experiência como voluntário tem sido muito boa. Conheci muitas pessoas interessantes e aprendi a compreender mais sobre mim mesmo e sobre os meus objectivos na vida. Aprendi, também que nunca poderia viver em Portugal por mais tempo, para além desta experiência. Embora Portugal seja um país surpreendente, com pessoas e cidades muito bonitas, e uma natureza lindíssima, também é um país com uma cultura muito diferente da do meu país de origem, e julgo que sentiria muitas dificuldades em adaptar-me e ficar por cá mais do que um ano. Na área do trabalho, julgo que há muitas pessoas que não usam devidamente as oportunidades de que dispõem, e que as hierarquias são demasiado fortes. Mas para quem conseguir lidar bem com isto, certamente poderá ter uma vida muita boa em Portugal, e a cidade do Porto é perfeita para morar.
Penso que fazer o Serviço Voluntário Europeu em Portugal foi das melhores decisões que tomei, e espero que tenha uma influência positiva no meu futuro, e que daqui surjam outras oportunidades de vida.
Nota
[1] Mais informações em http://ec.europa.eu/youth/youth-in-action-programme/overview_en.htm.