Dimensão analítica: Condições e Estilos de Vida
Título do artigo: Flexibilidade do Espaço Habitacional Reabilitado / cidadãos com mobilidade condicionada
Autora: Filipa Macedo
Filiação institucional: Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Fernando Pessoa
E-mail: filipamacedo.arq@gmail.com
Palavras-chave: Reabilitação, Habitação, Incapacidade/incapacidades físicas.
Qualquer ser vivo defende uma determinada zona, o seu território, o seu nicho ecológico [1]. A habitação é um invólucro ecológico, que protege e é protegido pelo Homem, tendo diferentes histórias e papéis, consoante os seus habitantes.
Há por isso uma preocupação em analisar toda a conjuntura à volta da temática “A Flexibilidade do Espaço Habitacional Reabilitado”, usando como suporte de estudo exemplos de arquitetura habitacional contemporânea, tentando assim estabelecer uma base para uma reflexão acerca dos caminhos seguidos pelos arquitetos e da sua importância na evolução da sociedade.
“Nascemos no interior, vivemos, amamos, criamos as nossas famílias, veneramos, trabalhamos, envelhecemos, adoecemos e morremos dentro de casa. A arquitectura espelha cada aspecto das nossas vidas – social, económico, espiritual” [2].
É desta forma que se pretende estar na vida, reorientando os hábitos, os conceitos e os estilos de vida que atualmente são considerados como direitos adquiridos e irrefutáveis.
Daí a ideia de que os novos conceitos de vida se focam num habitar contemporâneo onde conceitos como “morar” ou “dar abrigo” foram adornados pelo conforto que a arquitetura pode proporcionar ao Homem.
A explosão demográfica no século XX, o aumento da esperança de vida e a alteração da estrutura familiar, levou a comunidade de arquitetos a repensar o projeto de construção habitacional e na reorganização dos edifícios já construídos.
Como se observou, após a Segunda Guerra Mundial, disparou a construção pré-fabricada [3] e consequentemente a preocupação da flexibilidade no espaço habitacional.
Tal pensamento despertou o arquiteto para várias maneiras de projetar: projetar para recuperar, para reutilizar, para reciclar, para a durabilidade (alargar a vida do material e sistema construtivo), para um uso eficaz do material, para reduzir os resíduos, para regenerar, para reparar e manter.
Pelo facto da habitação não ser um elemento estático, esta sofre evoluções, transformações, influências e mutações.
Devido à consciência do ser humano, à introdução dos novos conhecimentos técnicos e à aplicação de métodos tradicionais, alguns países estão a investir e outros começam a dar os primeiros passos na reabilitação de edifícios.
A tentativa de dar resposta às condicionantes atuais de vida do cidadão, leva à busca de um modelo de arquitetura, que as servirá no futuro.
Na esperança de que todos tenham o seu lugar na sociedade, os Urbanistas, Arquitetos e Engenheiros debatem-se diariamente com diversos elementos da sociedade para que, o espaço habitacional a reabilitar seja usufruído por todos e em todas as fases das suas vidas. Daí que a inclusão do cidadão com mobilidade condicionada na sociedade tenha de se refletir nos projetos de espaços, como um traço já fluido e não pensado.
Não são só pessoas com deficiência que fazem parte dos cidadãos com mobilidade condicionada.
Desde que nasce até morrer, o Homem debate-se com obstáculos à sua mobilidade, ao interagir com o espaço que o envolve. Por isso, pertencem a este grupo os portadores de doenças debilitantes, as grávidas, as pessoas com carrinhos de bebés, (quer os simples ou duplos), as pessoas com estaturas diferenciadas, as pessoas obesas, as pessoas com limitações visuais, motoras e/ou visuais, as pessoas que transportam objetos volumosos, as crianças, as pessoas idosas e todas aquelas pessoas que por algum momento se sentiram incapazes de ultrapassar um obstáculo [4].
Terá o Homem noção que toda a população um dia fez e fará parte deste grupo?
Todo o ser humano envelhece, e por isso, caso o cidadão dito “normal” não se lembre dos entraves ou obstáculos passados na fase de criança, talvez se deva preocupar com a sua futura fase, a fase da melhor idade, ou seja, idoso.
O espaço habitacional reabilitado deverá adaptar-se à pluralidade de usos, costumes e expectativas dos seus utilizadores, tendo sempre presente as suas condicionantes, assim como os incentivos à procura de novos modelos projetuais.
Um dos pontos importantes a questionar sobre estes novos modelos habitacionais é, se alguns dos compartimentos que alguns acham hoje essenciais, o serão na realidade. Na Coreia do Sul, segundo o documentário “Portugueses no Mundo”, as refeições são efetuadas fora da habitação, ou seja, em restaurantes, devido ao seu reduzido preço. Por esta razão, a área de confeção de alimentos é diminuta nas suas habitações.
O módulo habitacional deverá ajustar-se aos diversos utilizadores, à sua condição social, cultural, familiar, física e laboral, e às diversas etapas temporais, devendo o arquiteto conjugar estas premissas com a otimização dos recursos empregues.
Ao projetar o espaço habitacional interior, o arquiteto deverá ter sempre em conta os elementos fixos (como as zonas de serviços, redes técnicas e certos equipamentos), os materiais e técnicas empregues nos elementos de divisão, devendo estes ser móveis ou flexíveis, assim como os restantes princípios sustentáveis.
Devido à constante mutação da sociedade e do Homem, o arquiteto deverá pensar o habitat contemporâneo, como se fosse um ser vivo, num espaço que poderá estar em constante metamorfose.
Notas
[1] Lamy, M. (1996). As camadas ecológicas do Homem, Lisboa, Inst. Piaget.
[2] Papanek, V. (1997). Arquitectura e design, Ecologia e ética, Lisboa, Ed. 70.
[3] Blasco, B. (s/d). Maderas I (Revestimentos), Tectónica, nº11, Madrid, ATC Ediciones.
[4] Pacheco, F.L. (2010). Acessibilidade e o Decreto-Lei nº163/2006 – Formação Profissional, Lisboa, 22 e 23 de Junho 2010.
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