Dimensão analítica: Saúde
Título do artigo: Gravidez precoce e drogas
Autora: Dina Peixoto
Filiação institucional: CICS/Uminho
E-mail: dina.peixoto@gmail.com
Palavras-chave: gravidez adolescência, riscos obstétricos e drogas duras.
Nascem, em média, 12 bebés/dia de mães com idades compreendidas entre os 11 e os 19 anos (o que implica mais de 4 mil grávidas adolescentes por ano). De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU).
A Save the Children diz que pode parecer paradoxal que o processo de nascimento acabe tornando-se a principal causa de morte de adolescentes no mundo. Gestações e partos causam anualmente o falecimento ou sérias lesões em um milhão de adolescentes, a maior parte das jovens com poucos recursos, pequeno acesso à educação e moradoras de países em desenvolvimento. Segundo um relatório da Save the Children, a raiz do problema está na falta de acesso a métodos anticoncepcionais e ao pouco planeamento familiar em muitos países [1].
O que sentem estas meninas? Algumas delas ainda crianças ou no despertar da adolescência. Levados pelo interesse espontâneo partimos do quotidiano para chegar a um mundo de significações.
Porque é que é tão difícil ser adolescente e estar grávida? Para a grávida adolescente, a ocorrência de uma gravidez precoce constitui um desafio desenvolvimental muito exigente. Estas jovens enfrentam uma dupla crise desenvolvimental: a crise da adolescência e a crise da gravidez.
Hoje sabe-se que as consequências da maternidade em adolescentes têm efeitos negativos: especialmente até aos 16 anos de idade, apresenta riscos físicos, psíquicos e sociais, por vezes graves. As mães adolescentes têm maior probabilidade de dar à luz prematuramente, correndo estes bebés um elevado risco de problemas de saúde, como baixo peso, morbilidade materna e fetal tanto maior quanto menor for a idade da grávida. A probabilidade das mães adolescentes morrerem devido a dificuldades durante a gravidez duplica. As causas podem estar relacionadas: com a necessidade de um parto prematuro, anemia ou tensão arterial elevada. Quanto aos riscos obstétricos trabalhos nesta área descrevem uma Síndrome que resultaria da gravidez num organismo insuficientemente crescido e prematuro e os efeitos nutricionais, biológicos, imunológicos e mecânicos daí consequentes. Uma gravidez adolescente poderá trazer complicações como o aumento da incidência de recém-nascidos pré-termo e de recém-nascidos pequenos para a idade de gestação, de asfixia intra-partum e de possíveis traumatismos obstétricos, de anomalias no sistema nervoso central, de síndrome de dificuldade respiratória, de hipoglicemia, de convulsões e de enterocolite necrosante.
Os factores que correlacionam baixa idade com mau prognóstico continuam ocultos, mas admite-se que os problemas essenciais destas jovens adolescentes sejam sociais, económicos e psicológicos. Segundo Almeida [2] a Americam Academy of Pediatrics depreendeu bem isto ao afirmar, pela sua Comissão para a Adolescência, que os efeitos nefastos em gravidezes precoces parecem depender mais do nível social e económico do que da adolescência em si. Segundo a Academy podemos apontar que os segundos filhos de mães adolescentes são frequentemente mais pequenos e apresentam maior taxa de mortalidade neonatal.
Focamos que a gravidez na adolescência é considerada de alto risco, devido às repercussões sobre a saúde da mãe – cujo corpo não está adequadamente preparado para a maternidade – e do bebé – que irá sofrer a imaturidade, quer física, quer psíquica da mãe.
Imaginemos agora, estas meninas grávidas e dependentes de drogas duras. Curiosidade pela experiência, influência do meio, de questões psicológicas e sociais são algumas situações que podem levar ao consumo destas drogas. Drogas de efeito rápido e intenso, levam o usuário velozmente à dependência e, por isso, é elementar prevenir o seu consumo.
A literatura científica sobre os efeitos neurológicos e psicológicos destas drogas demonstra que podem causar danos às funções mentais, com prejuízos à memória, atenção e concentração. Para o pesquisador Felix Kessler, do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “Em muitos casos, dependendo da predisposição genética, os indivíduos desenvolvem sintomas psiquiátricos, psicóticos e ansiosos, como depressão, delírios e ataques de pânico”, diz o especialista. O psiquiatra afirma que o uso da droga pode provocar transtorno bipolar, resultado do mecanismo de rápida e intensa euforia, logo após o uso da droga, que logo é substituída pela depressão, quando o usuário está em abstinência. [3]
Os efeitos do uso destas drogas durante a gestação podem ser diretos, relacionados à droga em si, ou indiretos, vinculados ao estilo de vida da mãe. Má nutrição induzida pela droga, ausência de cuidados pré-natais, uso concomitante de outras substâncias tóxicas e maior exposição a infecções e doenças que influenciam a evolução do feto.
A utilização abusiva de drogas tem vindo a aumentar nas últimas décadas, verificando-se também esta tendência no grupo de adolescentes em idade reprodutiva. O consumo de substâncias ilícitas durante a gravidez tem repercussões na grávida, no feto e no recém-nascido (RN). A grávida toxicodependente está sujeita a síndromes de abstinência repetidos que podem ser responsáveis por aborto, morte in útero ou parto pré-termo. O recém-nascido exposto a drogas in útero pode tornar-se dependente e sofrer após o nascimento de Síndrome de Abstinência. Complicações para o feto incluem aborto espontâneo, restrição do crescimento fetal, comprometimento do bem-estar fetal e parto pré termo. O RN pode ser afectado por baixo peso à nascença, défice no crescimento pós-natal, microcefalia, problemas neuronais e do comportamento e síndrome de abstinência. Para além disto, problemas de comportamento e cognitivos podem surgir mais tarde na infância e a criança pode ser afectada pelo consumo continuado da mãe.
Sintomas de abstinência podem ter início pouco depois do nascimento até às duas semanas de idade, sendo que a maioria é exibida dentro de 72 horas. Globalmente, as manifestações do Sintoma de Abstinência Neonatal são hiper-excitabilidade do SNC, disfunção gastrointestinal, dificuldade respiratória e instabilidade autonómica.
O curso de crescimento e sobrevivência do feto são ameaçados pela transferência contínua ou episódica de substâncias viciantes da circulação materna para a fetal. Enquanto a circulação materna e fetal se mantêm em equilíbrio, a droga é depurada do feto primariamente pelos mecanismos excretor e metabólico materno. Uma vez cortado o cordão umbilical, o RN deixa de estar exposto à droga e os sintomas de abstinência podem, a qualquer momento, ter início. O RN continua a metabolizar e a excretar a substância, sendo que a sintomatologia de abstinência ocorre quando são alcançados níveis tecidulares criticamente baixos.
Entre usuárias de droga a falta de cuidados obstétricos e neonatais apropriados foi associada a complicações obstétricas e a piores resultados da gravidez. O tratamento da dependência de droga durante a gravidez envolve também a estabilização da grávida a nível social e de saúde. O contacto frequente da grávida com os serviços de saúde, a fim de receber os cuidados pré-natais apropriados, oferece uma oportunidade valiosa ao cuidador de intervir a nível dos hábitos de consumo.
Notas:
[1]http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/06/120627_gravidez_savethechildren_dg.shtml
[2] Almeida j. (2003), Adolescência e maternidade, Lisboa, Fundação Calouste
[3] http://www.brasil.gov.br/crackepossivelvencer/efeitos-e-consequencias/neurologicos-e-psicologicos.







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