Dimensão analítica: Educação e Ciência
Título do artigo: A urgência da publicação e o problema das revistas predatórias. Ajudar a identificar
Autora: Andreia Fernandes Silva
Filiação institucional: ISVOUGA – Instituto Superior de Entre Douro e Vouga
E-mail: a.silva@doc.isvouga.pt
Palavras-chave: revistas predatórias, integridade científica, boas práticas, literacia científica.
As publicações predatórias garantem uma publicação rápida em troca de pagamento de uma taxa, recorrendo a práticas agressivas do ponto de vista de angariação de artigos, com campanhas massivas a incentivar à submissão de artigos [1].
Publicar em revistas predatórias causa danos à reputação dos investigadores e, por isso, estar consciente da sua existência e saber como se defender da submissão de artigos a edições deste tipo é uma prioridade [2].
J. Beall, o bibliotecário da Universidade de Colorado, tornou conhecido o fenómeno quando criou uma listagem onde foi identificando algumas destas publicações [3]. O facto de a designação ser muito semelhante à de revistas e jornais já existentes e muitas vezes com reputação e indexados em bases de dados de referência, apanha desprevenidos muitos dos investigadores.
Revès et al. [1] sugerem que é importante, por um lado divulgar e tornar visível esta realidade para que a comunidade científica não seja vítima da situação e, por outro, são urgentes a existência de estratégias de identificação de situações e práticas predatórias. Em simultâneo, urge a aquisição de competências críticas no âmbito da literacia de informação e da literacia científica que permitam aos investigadores desenvolver aptidões concretas para saber lidar com um fenómeno que desvaloriza o conhecimento e a prática científica. Algumas iniciativas como a campanha global Think, Check, Submit [4] ou a ferramenta criada pela Universidade de Liège, Compass to Publish [5], têm contribuído para um aumento da consciência da fake science [6].
Neste sentido, assinalam-se neste texto alguns pontos aos quais se deve estar atento, a fim de evitar submeter um trabalho a uma destas publicações:
– as revistas predatórias apresentam-se como editores em acesso aberto que, regra geral, têm critérios de submissão e aceitação de artigos facilitados. A começar pelo investimento: as taxas são mais baixas e o processo de revisão mais rápido. Como o interesse é meramente económico publicam praticamente tudo.
– o processo de revisão é bastante curto, indiciando que não há qualquer ciclo faseado de verificação dos artigos e envio para revisão por pares ou a existência de procedimentos de revisão adequados e baseados em princípios éticos [7]. Os próprios artigos sofrem poucas ou nenhumas alterações.
– a informação que surge na página da revista é insuficiente ou apresenta dados que levantam suspeitas. Ter especial atenção a designações aproximadas de factor de impacto ou com elevado índice [8].
– ler com atenção a chamada de trabalhos, verificar se há a definição de temas ou se é tudo muito vago (potenciando a submissão de qualquer tipo de assunto).
– ver os contactos, localização da publicação e, em especial, analisar o endereço eletrónico, se é oficial da editora ou da revista ou se é de um fornecedor gratuito de email.
– não têm indicação de princípios claros no que diz respeito à integridade científica, nem há qualquer referência, por exemplo, à preservação digital dos artigos.
– as comissões científicas e editoriais são normalmente falsas e/ou incluem o nome de investigadores e especialistas sem o seu conhecimento e autorização. Verificar se há a indicação da filiação. Fazer pesquisa dos nomes anunciados no conselho editorial.
– o facto de ter o logotipo da COPE, Comittee on Publication Ethics, ou de surgir a indicação de estarem indexados em bases de dados de referência, nem sempre corresponde à realidade, embora esta situação possa ser verificada pelo próprio investigador ou pelos serviços de biblioteca das instituições das quais faz parte.
– Muitas destas publicações podem resultar do sequestro de outras revistas já existentes [8].
Se do ponto de vista do investigador, há um efeito imediato e o artigo publicado, podendo acrescentar mais uma publicação à sua produtividade científica, do ponto de vista da sua reputação e credibilidade junto dos pares e das entidades de financiamento e unidades de investigação, o resultado pode não ser, a médio/longo prazo, muito abonatório.
Numa altura em que a pressão para a produtividade científica, medida quantitativamente é colocada em causa, debate-se a urgência da revisão do processo de medição e valorização da produtividade científica, baseada em critérios qualitativos e de valor e impacto real na sociedade.
Notas:
[1] Revés, J. et al. (2018). Predatory Publishing: An Industry that Is Threatening Science. Acta Médica Portuguesa, v. 31, n. 3, p. 141-143, http://dx.doi.org/10. 20344/amp.9810
[2] Sugere-se a consulta do documento da autoria de Antunes, M. L, Lopes, C. & Sanches, T. (2021), Revistas predadoras, Webinar do Grupo de Trabalho Bibliotecas do Ensino Superior, BAD. https://repositorio.ipl.pt/bitstream/10400.21/13317/1/Webinar%20Revistas%20Predadoras_vfinal.pdf
[3] Beall, J. (2012), Predatory publishers are corrupting open access. Nature 489, 179. https://doi.org/10.1038/489179a
[4] Think, Check, Submit é uma iniciativa que permite uma identificação e seleção de publicações credíveis, às quais podem aos autores submeter o resultado das suas investigações. Para mais informação consultar: https://thinkchecksubmit.org/ .
[5] Compass to publish é uma ferramenta criada na Universidade de Liége que ajuda a identificar revistas e editoras predatórias, permitindo verificar a autenticidade das revistas em acesso aberto. Ver: https://app.lib.uliege.be/compass-to-publish/.
[6] A real dimensão do negócio das publicações predatórias está longe de ser conhecida, mas uma investigação internacional sobre Ciência Falsa e que envolveu vários meios de comunicação identificou a possibilidade de existência de mais de dez mil revistas predatórias. Ler artigo de Hern, A. & Duncan, P. (2018, agosto), intitulado Predatory publishers: the journals that churn out fake scienc e publicado pelo The Guardian, disponível em https://www.theguardian.com/technology/2018/aug/10/ predatory-publishers-the-journals-who-churn-out-fake-science
[7] Ler o documento de discussão do Committee on Publication Ethics Council, (2019, nov). COPE, Discussion Document: Predatory Publishing Discussion, COPE, https://doi.org/10.24318/ cope. 2019.3.6, onde no final estão incluídos alguns recursos de apoio para lidar com as publicações e editoras predatórias.
[8] Exemplos de designações já identificadas e que facilmente confundem são Global Impact, Universal Impact Factor (VIF), Global Impact Quality Factor, International Institutte for Research Impact Factor Journals ou Cite Factor, (não confundir com CiteScore da Scopus).
[9] O fenómeno das publicações sequestradas consiste na duplicação ou criação de páginas de uma revista conhecida e até indexada em bases de dados de referência. Este rapto permite sob a alçada da reputação da publicação autêntica, atrair a submissão de artigos com a promessa de publicação mediante o pagamento de taxas a preços mais baixos. Ver também os documentos da Clarivate (WoS) https://clarivate.com/blog/hijacked-journals-what-they-are-and-how-to-avoid-them/ e consultar o conceito de Hijacked Journals em https://beallslist.net/hijacked-journals/ .
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