A juventude como motor de parcerias estratégicas para uma cidadania mais ativa e uma Europa mais igualitária

Dimensão analítica: Cidadania, Desigualdades e Participação Social

Título do artigo: A juventude como motor de parcerias estratégicas para uma cidadania mais ativa e uma Europa mais igualitária

Autora: Paula Rocha

Filiação institucional: Embaixada da Juventude

E-mail: embaixadajuventude@gmail.com

Palavras-chave: Cidadania, Participação, União Europeia.

O programa Erasmus+ é o principal programa da União Europeia (UE) para a implementação de linhas de ação no campo da cidadania, desigualdades e participação social. Destinado a promover a educação, a formação, a juventude e o desporto em toda a Europa e países terceiros, o programa assenta em seis grandes pilares: (1) a promoção da inclusão e a diversidade em todas as suas ações, tendo em vista a eliminação de barreiras à participação e a promoção da equidade, através de medidas de apoio adaptadas, de que é exemplo o financiamento adicional para participantes com menos oportunidades; (2) a aprendizagem e desenvolvimento de competências técnicas, mas também competências transversais e sociais, que são essenciais para uma cidadania ativa e participativa; (3) o diálogo e a participação cívica dos jovens, que através do programa são encorajados a se engajar em questões sociais, desenvolver um sentido de pertença à Europa e contribuir para a construção de uma sociedade mais inclusiva e justa; (4) as parcerias estratégicas entre organizações de diferentes países e setores, incluindo educação, negócios e sociedade civil; (5) a reforma de políticas educacionais e de formação em toda a Europa, através da partilha de boas práticas e da promoção da aprendizagem entre países; e (6) a promoção da sustentabilidade e da conscientização ambiental.

É em todos estes planos que a Embaixada da Juventude, uma organização sem fins lucrativos sediada no município de Paredes, desenvolve também a sua ação. Com enfoque na juventude, esta associação assume como missão trabalhar a cidadania, as desigualdades e a participação social. Tendo nascido por via da discussão das complexidades da cidadania, dos desafios impostos pelas desigualdades e das dinâmicas da participação social, e por acreditar que a mudança orgânica parte do seio das comunidades, numa estratégia bottom-up, a associação tem investido numa estratégia de informação e empoderamento capaz de preparar os jovens para enfrentar as dinâmicas e os problemas sociais. Florin e Wandersman [1] já haviam descortinado a temática, sugerindo uma framework para entender como a participação cívica, apoiada por organizações voluntárias, pode impulsionar o desenvolvimento comunitário e o empoderamento. Conscientes da linha ténue entre cidadania e desigualdade, em que o papel da cidadania tanto pode ser um marcador de igualdade como um mecanismo através do qual as desigualdades são manifestadas e contestadas [2], a Embaixada lança um olhar atento para os objetivos da UE e sublinha a necessidade de políticas e programas que não apenas promovam os direitos de cidadania, mas também trabalhem ativamente para desmantelar as desigualdades estruturais.

Muito mais do que o plano nacional, a viragem do trabalho associativo da Embaixada da Juventude para a UE e para a internacionalidade, permite que a cidadania ativa, que se procura fomentar entre os jovens e jovens adultos, seja comparativa, reflexiva e com os olhos postos nas boas práticas. Replicar modelos com bons resultados externamente é sempre motivador para um projeto de adaptação local. Além disto, todas as parcerias estratégicas estabelecidas por esta organização têm como base a utilização de metodologias, métodos e ferramentas de educação não formal, para trabalhar temas complexos e na linha da frente.

A Embaixada da Juventude conta com vários exemplos de mobilização juvenil e ativação das comunidades. Através do programa Erasmus+ e da sua Ação-Chave 1, desde 2021, já enviou mais de 200 jovens e jovens adultos, entre os 18 e os 30 anos, para intercâmbios e ações de formação. Nestes programas, com uma duração média de uma semana, jovens, educadores, professores e técnicos de juventude, estão em contacto com outros jovens, de diferentes culturas, países e religiões, expandindo o seu posicionamento na sociedade, com impacto na tolerância, na solidariedade e na inovação social. Através destas experiências, não apenas se fomenta o conhecimento explícito como uma mais valia para os participantes (por exemplo, sobre temas como o ambiente, a política, a literacia financeira, as artes e metodologias de educação não formal), como também o conhecimento tácito, em resultado da experiência vista de forma holística. Para avaliar o impacto da participação, os jovens são conduzidos a uma reflexão sob o processo de educação não formal pelo qual passaram e é gerado o designado Youthpass, que permite um reconhecimento formal, social e político em oito competências chave: competência multilinguística; competência pessoal, social e aprender a aprender; competência de cidadania; competência empreendedora; competência em consciência cultural e expressão; competência digital; competência matemática e competência em ciência, tecnologia e engenharia (STEM); competência de alfabetização. Após a experiência de intercâmbio ou formação, é esperado que os participantes se envolvam de forma ativa na comunidade, gerando eventos multiplicadores ou replicadores, nomeadamente levando para a sua comunidade exemplos de boas práticas.

No campo da Ação-Chave 2, a Embaixada da Juventude já implementou 16 projetos, com uma duração média de dois anos, também assentes em parcerias estratégicas entre organizações de diferentes países, com o objetivo de gerar resultados no campo da educação não formal e produzindo diferentes outputs. Um desses exemplos é o projeto “NOMO FOMO – Positive mental health for Gen Z NO MOre Fear Of Missing Out” [3], resultado de uma parceria entre Portugal, Espanha, Irlanda, França, Alemanha, Grécia e Polónia. Considerado um projeto inovador ao nível da intervenção na saúde mental positiva e no bem-estar da Geração Z, este projeto identificou fatores de stress impostos aos atuais jovens nativos digitais e forneceu um kit de ferramentas com recursos de aprendizagem interativos para abordar o FOMO (medo de perder) – medo de ser impopular, desinteressante, não atraente, indigno, hostil, indelicado, indiferente a que os jovens experimentam através das realidades distorcidas que são exibidas nos meios de comunicação social.

Entre os outputs [4], destacam-se os (1) Infográficos interativos, que contêm códigos QR e links, com acesso a vídeos educativos, exercícios, jogos e questionários, que os ajudam a aumentar a consciência sobre o impacto dos meios de comunicação social nas suas vidas; (2) o Programa de formação em serviço, que ajuda técnicos de juventude a trabalhar em ambientes online e a utilizar os recursos apresentados nos infográficos interativos; (3) o Programa de formação em liderança de pares, com o objetivo de construir líderes comprometidos em ambientes online e de comunicação social desafiadores, através do fornecimento de materiais interativos inovadores no mundo real e virtual; e o (4) Programa de Formação Smartfeed, que equipa os técnicos de juventude e os jovens com recursos (tutoriais, folhas de dicas e podcasts), para se tornarem utilizadores ativos, em vez de utilizadores passivos e seletivos, das redes sociais.

Notas:

[1] Florin, P., & Wandersma, A .(1990). An Introduction to Citizen Participation, Voluntary Organizations, and Community Development: Insights for Empowerment Through Research, American Journal of Community Psychology, 18(1), pp. 41-54.

[2] Glenn, E. (2000). Citizenship and Inequality: Historical and Global Perspectives, Society for the Study of Social Problem, 47, pp. 1-20.

[3] Este projeto está concluído e pode ser consultado em: https://nomofomomooc.eu/

[4] Todos estes outputs estão disponíveis numa plataforma MOOC – “Massive Open Online Course” (curso intensivo online e livre).

.

.

Esta entrada foi publicada em Cidadania, Desigualdades e Participação Social com as tags , , . ligação permanente.