A evolução da produtividade do trabalho em Portugal no século XXI – 2012-21 (parte 2)

Edição: 3ª Série de 2023 (dezembro 2023)

Dimensão analítica: Economia, Trabalho e Governação Pública

Título do artigo: A evolução da produtividade do trabalho em Portugal no século XXI – 2012-21 (parte 2)

Autor: João Aguiar

Filiação institucional: Instituto de Sociologia da Universidade do Porto

E-mail: jaguiar@letras.up.pt

Palavras-chave: produtividade, crescimento económico, comparatividade.

Em termos genéricos, a produtividade do trabalho na Zona Euro, na sequência da crise das dívidas soberanas do início da década de 10, sofreu um processo global de estagnação. Em termos de índice, em 2012, a produtividade do trabalho, por hora de trabalho (e tomando a produtividade da UE27 como referência), passou de um índice de 111 para 109,3, em 2021. Mesmo no caso da mais poderosa economia europeia, a Alemanha terá passado de um índice 122,9 para 123,3, no mesmo período [1].

Neste âmbito, o gráfico 1 procura representar a evolução da produtividade do trabalho num período mais alargado.

Jag.2.G1

Gráfico 1 – Produtividade do trabalho, por hora de trabalho [2]

A evolução da produtividade em quase 3 décadas é fortemente elucidativa, na medida em que alberga situações de franco crescimento (Letónia, Polónia, Irlanda), estagnação (Dinamarca) e mesmo de retração variável (Luxemburgo, Bélgica, Alemanha, Portugal ou Grécia). Assim, o objetivo analítico neste ponto foca-se em identificar as cinco economias com a mais elevada produtividade e as cinco economias com a mais baixa produtividade.

Nas economias com maior índice de produtividade, e para o período entre 2012 e 2021, verifique-se a Tabela 1.

Tabela 1 – Produtividade do trabalho nas 5 economias europeias com maiores índices de produtividade [1]

Jag.2.T1

Aparte o caso excecional da Irlanda, verifica-se relevante a estagnação na Bélgica e na Alemanha, a diminuição no Luxemburgo e um pequeno crescimento na economia dinamarquesa. Numa situação em que as mais produtivas economias europeias não registam aumentos significativos da produtividade do trabalho, existe uma situação de espelho entre si e o estado global da produtividade no conjunto da economia europeia.

No que se refere às cinco economias com os mais baixos índices de produtividade do trabalho, lista-se a Tabela 2.

Tabela 2 – Produtividade do trabalho nas 5 economias europeias com menores índices de produtividade [1]

Jag.2.T2

Neste conjunto de economias nacionais, destacam-se os casos de crescimento da Bulgária, Letónia e Polónia e os casos de diminuição por parte das economias grega e portuguesa. Neste plano, importa relembrar a coincidência destas duas últimas economias corresponderem a duas das situações mais problemáticas aquando da crise das dívidas soberanas. O afastamento de Portugal e Grécia da média europeia ao longo da década em análise convoca duas linhas de raciocínio. Em primeiro lugar, resulta de um processo diferenciador no que diz respeito a outras economias de baixo perfil de produtividade. Enquanto pequenas economias como a Bulgária e a Letónia conseguiram aumentar em 19%, e enquanto a Polónia conseguiu aumentar em 7% o índice de produtividade do trabalho, a economia portuguesa revela dificuldades em manter um crescimento, quanto mais durável e sustentado da produtividade. Em segundo lugar, o período em análise coincide temporalmente com a explosão do turismo no território português [3]. Para além dos efeitos nas dinâmicas de habitação e de regeneração urbana, considera-se pertinente um estudo em que se procurasse aferir de eventuais consequências da aposta (quase) unilateral num setor económico. Ou seja, um setor que representará praticamente 14% do PIB português [4] e que tende a absorver relevantes investimentos nas duas principais Áreas Metropolitanas, torna-se analiticamente relevante repensar o peso e, acima de tudo, os efeitos de um setor que, no fundamental, se encontra afastado do desenvolvimento tecnológico de ponta. Efeitos estes que se poderão estar a repercutir na produtividade do trabalho e, num plano paralelo, na (não) mobilização de uma geração de mão-de-obra qualificada e com formação superior, adquirida na última década. A este propósito, Rodrigues et al [5] consideram que «o emprego dos jovens continua a ser de baixa qualidade e particularmente afetado pelas crises económicas. Desde 2015, o desemprego jovem é mais de 2,5 vezes superior ao desemprego total».

Num contexto em que se farão sentir cada vez mais desafios económicos candentes ao nível das indústrias dos semicondutores, da agro-indústria ou das low-carbon energies [6], um mote para o aumento da produtividade do trabalho poderia partir da combinação entre desenvolvimento sustentável e desenvolvimento tecnológico e científico. Neste quadro, a articulação de qualificações académicas, de componentes tecnológicas aplicadas e a necessidade de combater as alterações climáticas constitui-se como um possível trajeto de elevação da produtividade da economia. Com efeito, importa enfatizar a necessidade de tal proposta não negligenciar os níveis de precariedade laboral. Em suma, um desafio societal alicerçado na conjugação entre emprego qualificado e não precário, desenvolvimento científico e tecnológico e a sustentabilidade dos recursos existentes.

Notas:

[1] Pordata (2023). Produtividade do trabalho. Disponível em: https://www.pordata.pt/db/europa/ambiente+de+consulta/tabela

[2] Pordata. Produtividade do trabalho por hora. Disponível em:  https://www.pordata.pt/Europa/Produtividade+do+trabalho++por+hora+de+trabalho+(UE27+100)-1992

[3] World Travel and Tourism Council (2018). Travel & Tourism, Economic Impact 2018. p.3. No seguinte URL encontra-se link para o relatório original: https://www.sgecono9mia.gov.pt/noticias/portugal-e-o-5-pais-com-mais-forte-contributo-do-turismo-para-o-pib.aspx)

[4] Governo de Portugal. Turismo representa 13,7% do produto interno bruto em Portugal. Disponível em: https://www.portugal.gov.pt/pt/gc21/comunicacao/comunicado?i=turismo-representa-137-do-produto-interno-bruto-em-portugal

[5] Rodrigues, M. et al (2022). Livro Branco do Emprego Jovem. Lisboa: Fundação José Neves.

[6] European Parliament. Committee on Industry, Research and Energy (ITRE) – Political Agreement. Disponível em: https://www.euractiv.com/wp-content/uploads/sites/2/2023/07/CA-1-v5.pdf

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