Dimensão analítica: Saúde e Condições e Estilos de vida
Título do artigo: Um olhar multidisciplinar da participação das Pessoas na Saúde Individual e Comunitária
Autor/a: José Amendoeira, Isabel Barroso
Filiação institucional: 1 Professor Coordenador Escola Superior de Saúde do IPSantarém. Coordenador da Investigação Área Científica-Saúde Individual e Comunitária. Investigador Sénior Centro de Investigação em Qualidade de Vida; 2 Professora Coordenadora Escola Superior de Saúde do IPSantarém. Investigadora na UMIS_Escola Superior de Saúde de Santarém. Administradora dos Serviços de Ação Social do IPSantarém.
E-mail: jose.amendoeira@essaude.ipsantarem.pt; isabel.barroso@essaude.ipsantarem.pt
Palavras-chave: Cuidados de Saúde, Centralidade das Pessoas, Salutogénese.
O contexto da saúde tem vindo a evoluir de um paradigma dominante, para um paradigma da complexidade, por influência das transições paradigmáticas que sinteticamente se explicitam na relação entre quatro dimensões de análise: 1) transição demográfica (diminuição da natalidade e aumento gradual do envelhecimento); 2) Evolução do conhecimento científico (não exclusivamente à conta da investigação centrada no estudo das doenças, mas valorizando cada vez mais a relevância do conhecimento dos determinantes sociais da saúde); 3) Política (Compromisso político da ação sobre a saúde e bem-estar da população, tão presente na discussão política na atualidade e, a Crise económica e política do modelo de Sistema Nacional de Saúde/Serviço Nacional de Saúde, devido às pressões sociais e demográficas); 4) Sociocultural (caracterizada pela melhoria das condições de vida, associada necessariamente à procura de estilos de vida, que se aproximem cada vez mais da procura do bem estar e da qualidade de vida) [1].
Giddens (1998:234) [2], a propósito do que considera ser um novo conservadorismo teórico, contribui para o questionamento proposto, assumindo a existência de valor à subjetividade – “um olhar centrado nas Pessoas (Seres Humanos) são sempre e qualquer situação, considerados como agentes capazes de produzir conhecimentos, embora atuem dentro de limites historicamente definidos, e cuja ação se desenrola no quadro de condições muitas vezes desconhecidas dando origem a consequências não antecipadas.
Rodrigues et al. (2020:10) [3] consideram que “Saúde e qualidade de vida são dois conceitos que se caracterizam pela singularidade com que cada indivíduo os aborda desde que tenha a capacidade de tomar decisões informadas e adequadas para a sua intervenção, ou como parceiro no processo de cuidar assumindo uma dimensão individual, familiar e comunitária”, constituindo-se como relevante o referido por Amendoeira (2009:3) [1]: “Assim, ao considerar-se o Sistema de saúde como estruturante do Sistema de cuidados de saúde, parte-se inevitavelmente de uma oposição paradigmática entre os conceitos de saúde e de doença, assumindo-se, também, uma postura essencialmente medicocêntrica, que associa a medicina à saúde enquanto disciplina e profissão exclusivas.”
O discurso da Pós-Modernidade (Giddens, 2000), traz a esta dinâmica a mobilização da sociologia da ação, com ênfase na confiança entre os profissionais de saúde e as pessoas, como essencial à construção de uma postura que valoriza a salutogénese (Antonovsky, 1996) [4] como o caminho a desbravar, na descodificação do que são a saúde e a doença, não como estados opostos, mas sim contextualizados num paradigma da saúde mobilizando a dimensão individual (da pessoa), mas integrando a família e os grupos sociais e a comunidade, no domínio da promoção da saúde e da qualidade de vida. Para Rodrigues et al. (2020:11) [3], consolidando esta perspetiva, “É importante uma abordagem teórica que considere a saúde e a doença como entidades cada vez mais estudadas numa perspetiva salutogénica com foco na promoção da saúde e no aprofundamento desta, bem como de outras estratégias no âmbito da promoção da literacia em saúde”. Para Amendoeira, citado por Rodrigues et al. (2020: 11-12) [3], potencia-se assim o fortalecimento da literacia para a saúde, “É na medida em que ocorre a visibilidade dessa formação que podemos falar também em literacia em saúde. No primeiro Congresso Internacional de Literacia em Saúde, em 2019, houve uma oportunidade de intensa partilha a partir dos resultados de pesquisas desenvolvidas em diversos países da Europa e do Brasil, permitindo que o conhecimento produzido nesta área constitua orientação para ampliá-lo a novos contextos e grupos de participantes, a serem mobilizados para a operacionalização das recomendações no domínio da investigação a desenvolver no âmbito da literacia em saúde.”
A Promoção da Saúde assume uma relevância assinalável, na medida em que permite acompanhar as pessoas, nomeadamente no contexto onde nascem, se desenvolvem e morrem, capacitando-as para a tomada de decisão no que respeita ao projeto individual de saúde e na perspetiva da interação social entre grupos e comunidades.
Mas importa relevar um outro domínio de reflexão, caracterizado pelo envelhecimento demográfico, que é um dos grandes desafios das sociedades atuais. Em 2018, Portugal era o 3º país com o índice de envelhecimento (157,4) mais elevado da União Europeia, apenas ultrapassado pela Itália (171) e Alemanha (158,5) (Pordata, 2020). E porquê esta mobilização?
Faz-nos sentido, compreender esta lógica no âmbito do Envelhecimento Saudável, suportando-nos em Levasseur e Naud (2022) [5] quando referem, tal como defendemos: “Manter ou melhorar a saúde e o bem-estar das populações idosas é um desafio importante que pode ser abordado através dos determinantes da saúde, com intervenções direcionadas à singularidade das Pessoas. É importante planear e implementar intervenções de saúde inovadoras e com boa relação custo-benefício, abordando os determinantes modificáveis da saúde, incluindo apoio social, participação e mobilidade. O objetivo é essencialmente promover a saúde, mais do que resolver problemas de doença e patologia, num quadro salutogênico, promotor do envelhecimento saudável e ativo em casa. O apoio social e a participação são fatores importantes que ajudam os idosos a lidar com eventos estressantes e desafios da vida cotidiana (p. 249).”
É com esta orientação que Amendoeira et al. (2013) [6], vêm desenvolvendo investigação, por forma a estudar com maior profundidade uma população concreta, futuramente orientado para a promoção da utilização dos resultados da investigação, no domínio da melhoria das condições e consequentemente da Saúde, da população por referência a um espaço geográfico concreto, que estudamos e pretendemos continuar a estudar, assumindo um paradigma centrado no processo de envelhecimento saudável [7].
Notas:
[1] Amendoeira, J. (2009). Políticas de Saúde em Portugal e Desigualdades. Seminários Temáticos Políticas Públicas e Desigualdades. Universidade Nova de Lisboa. Departamento de Sociologia. 35 p. http://hdl.handle.net/10400.15/86
[2] Giddens, A (1998). Política, Sociologia e Teoria Social. Confrontos com o pensamento social clássico e contemporâneo. Celta Editora.
[3] Rodrigues, J. et al (2020). Conceptual Framework for the Research on Quality of Life. Sustainability 2020, 12, 4911; doi:10.3390/su12124911
[4] Antonovsky, A. (1996). The salutogenic model as a theory to guide health promotion. Health Promotion International, 11 (1), 11-18. https://doi.org/ 10.1093/heapro/ 11.1.11
[5] Levasseur, M. & Naud, D. (2022). The Application of Salutogenesis for Social Support and Participation: Toward Fostering Active and Engaged Aging at Home. In M. B. Mittelmark, G. F. Bauer, L. Vaandrager, J. M. Pelikan, S. Sagy, M. Eriksson, B. Lindström & C. M. Magistretti. (Eds.), The Handbook of Salutogenesis (2nd ed., pp.249-258) Springer. https://doi.org/10.1007/ 978-3-030-79515-3_3.
[6] Amendoeira, J. et al (2013). Determinantes Sociais de Saúde e Compreensão dos Indicadores de Saúde Numa População Concreta. FCSH_UN: Lisbon, Portugal.
[7] Amendoeira, J. (Org.) (2022). Saúde Individual e Comunitária. A saúde no centro da transdisciplinaridade para a promoção da Qualidade de Vida. CIEQV Edições. Relgráfica Lda.
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