Dimensão analítica: Educação e Ciência
Título do artigo: Avaliação Internacional em Larga Escala
Autor: Vítor Rosa
Filiação institucional: Universidade Lusófona, CeiED
E-mail: vitor.rosa@ulusofona.pt
Palavras-chave: Educação, PIRLS, Avaliação.
Os estudos internacionais de avaliação em larga escala produzem informações e indicadores sobre os conhecimentos e as competências dos alunos de diferentes sistemas educativos. Essas avaliações, no âmbito da educação, adquiriram uma grande importância nas últimas décadas. Os Governos passaram a utilizar os resultados destes estudos, com o objetivo de melhorar os investimentos e obter melhores resultados escolares.
Embora as avaliações internacionais em grande escala (ILSA) sejam atualmente consideradas por muitos uma regularidade do panorama educativo, elas são um fenómeno relativamente recente. As suas origens podem ser rastreadas até ao inquérito-piloto da International Association for the Evaluation of Educational Achievement (IEA), relativo à avaliação do desempenho dos alunos realizada na década de 1960. Desde então, registaram-se desenvolvimentos significativos. O número de organizações responsáveis pelo desenvolvimento, gestão e condução das ILSA cresceu de um para sete grandes atores: IEA, Conferência dos Ministros da Educação dos Estados e dos Governos da Francofonia (CONFENEM), Banco Interamericano de Desenvolvimento (IDB), Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Consórcio da África Austral e Oriental para a Monitorização da Qualidade Educacional (SACMEQ), Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e o Banco Mundial. Atualmente, estima-se que cerca de 70% dos países do mundo participam nas ILSA [1].
As metodologias de medição evoluíram consideravelmente. Nas ILSA Programme for International Student Assessment (PISA), Progress in International Reading Literacy Study (PIRLS) e Trends in International Mathematics and Science Study (TIMSS) as raízes assentam nas metodologias de avaliação de tendências de longo prazo na Avaliação Nacional do Progresso Educacional (NAEP) nos Estados Unidos da América (EUA). As suas metodologias foram adaptadas e ampliadas para atender aos desafios desses e de outros estudos que avaliam o desempenho educacional para além das fronteiras nacionais, garantindo, por exemplo, a comparabilidade dos dados.
As ILSA são cada vez mais vistas como uma condição necessária para acompanhar e compreender os resultados dos investimentos significativos que todas as nações fazem na educação. Ao longo dos anos, as organizações que conduzem as ILSA desenvolveram padrões técnicos com requisitos mínimos e os relatórios dos resultados para os ciclos de estudos são geralmente acompanhados por documentação técnica abrangente, que fornecem orientações para a interpretação dos dados e a implementação de análises secundárias [2].
Portugal tem participado em alguns destes estudos, que são promovidos por diversas organizações internacionais: no TIMSS desde 1995, no PISA desde 2000, no PIRLS desde 2011 e no International Computer and Information Literacy Study (ICILS) desde 2013 [3] [4] [5]. Num artigo recente, procurou-se comparar o PISA, o TIMSS e o PIRLS em Portugal [6]. Com o artigo, pretendeu-se alargar o espaço de informação sobre essas avaliações e saber se é possível compará-los, tendo em conta os seus objetivos. Foi feito a partir dos dados globais conhecidos dos países participantes, com um olhar particular para os dados de Portugal. Verificou-se que os resultados obtidos pelos alunos não são iguais em todo o país, havendo diferenças entre as várias regiões. Os domínios que se avaliam (leitura, matemática, ciências e física, por exemplo) parecem não ser determinantes nos resultados de cada estudo. A irrelevância do domínio diz-nos que as regiões têm bons ou maus resultados independentemente do domínio em causa, e a relevância do objeto de avaliação indica-nos que a competência na escola poderá estar pouco relacionada com as competências para a vida.
Um estudo do Conselho Nacional de Educação (CNE) [7] procurou identificar alguns dos fatores explicativos do desempenho dos alunos no âmbito das três principais literacias (leitura, matemática e ciências), com referência ao TIMSS 2015 e ao PIRLS 2016. Alguns dos fatores explicativos são os seguintes:
- Os alunos com origem em famílias com elevado capital familiar apresentam melhores desempenhos do que os alunos com origem em famílias com menos recursos socioeconómicos;
- A frequência continuada em programas de educação e os cuidados para o desenvolvimento da primeira infância revela-se importante para os alunos de famílias com menores recursos socioeconómicos;
- Os alunos que depositam mais confiança nas suas competências são os que alcançam melhores resultados nos três domínios principais da literacia;
- Dos vários países europeus, Portugal apresenta a percentagem mais elevada de alunos provenientes de escolas de meios desfavorecidos, conseguindo alcançar, em todos os domínios, pontuações acima da média internacional;
- As escolas mais orientadas para o sucesso escolar permitem aos seus alunos a obtenção de melhores desempenhos.
Os meios de comunicação divulgam os resultados destes estudos, mas oferecem muito poucos esclarecimentos sobre os seus processos técnicos e científicos.
Notas:
[1] Lietz, P., Cresswell, J. C., Rust, K. F., & Adams, R. J. (2017). Implementation of large-scale education assessments. In P. Lietz, J. C. Cresswell, K. F. Rust, & R. J. Adams (Eds.), Wiley series in survey methodology. Implementation of large-scale education assessments (pp. 1-25). John Wiley & Sons.
[2] Olsen, R., & Lie, S. (2006). Les évaluations internationales et la recherche en éducation: principaux objectifs et perspectives. Revue française de pédagogie, 157, 11-26. https://doi.org/10.4000/rfp.393
[3] Rosa, V. (2020). A participação de Portugal no estudo ICILS. EDUSER: revista de educação, 12(2), 1-16.
[4] Rosa, V., Maia, J., & Mascarenhas, D. (2021). A participação de Portugal no inquérito internacional PIRLS (2011-2016). Revista Indagatio Didactica, 13(3), 37-56. https://doi.org/10.34624/id.v13i3.25503
[5] Rosa, V. (2021). Avaliação internacional em larga escala: a participação de Portugal no TIMSS, PIRLS e ICILS. EDUSER: revista de educação, 13(1), 23-40. http://dx.doi.org/10.34620/eduser.v13i1.148
[6] Rosa, V., Maia, J., Daniela, M., & Teodoro, A. (2020). PISA, TIMSS e PIRLS em Portugal: uma análise comparativa. Revista Portuguesa de Educação, 33(1), 94-120. https://doi.org/10.21814/rpe.18380
[7] Félix, P., Perdigão, R., & Lourenço, V. (2020). Desempenho e equidade: uma análise comparada a partir dos estudos internacionais TIMSS e PIRLS. Conselho Nacional de Educação (CNE).
.
.