Dimensão analítica: Educação e Ciência
Título do artigo: O PISA 2018 e a educação STEM das raparigas
Autora: Salete Silva Farias
Filiação institucional: CeiED – Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento, ULHT
E-mail: saletefarias@ifma.edu.br
Palavras-chave: PISA, Educação, Género.
- Há cada vez mais estudos que demonstram que a equidade de género e a educação são considerados essenciais para o Desenvolvimento Sustentável do planeta. Tais questões são tão importantes que elas estão na Agenda 2030 das Organizações das Nações Unidas (ONU), não apenas como diferentes objetivos mas também como aceleradores para que possamos alcançar todos os outros objetivos da Agenda.
- Uma das bases da Agenda 2030 é a educação em STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics), que tem um papel essencial nessa transformação do planeta. Segundo a UNESCO, envolver mais meninas em ciência, tecnologia, engenharia e matemática faz parte do processo de desenvolvimento social, e mulheres e raparigas são partes fundamentais na implementação de soluções para que se alcance um crescimento “verde” e uma melhoria de vida nas sociedades [1].
- Neste contexto, é importante refletir sobre a situação das raparigas em Portugal quando falamos de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática. E para entendermos este cenário vamos ver o que os resultados do PISA 2018 podem nos contar sobre o desempenho das raparigas e do envolvimento e expetativas que elas possuem com relação a estas áreas.
- O PISA – Programme for International Student Assessment é um programa desenvolvido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que tem como objetivo avaliar se alunos de 15 anos estão preparados para os desafios da vida quotidiana, ou seja, se os alunos conseguem mobilizar as suas competências de Leitura, de Matemática ou de Ciências na resolução de situações relacionadas com o dia a dia. Caracteriza-se por ser um estudo trienal e em cada ciclo é dada ênfase a uma das áreas avaliadas (Leitura, Matemática ou Ciências). A edição realizada em 2018 teve ênfase em Leitura, o que significa um maior número de questões desta área, mas sem prejuízo das demais [2].
- Portugal está entre os países participantes desta avaliação internacional desde 2000 e apresentou uma melhoria em literacia de leitura ficando acima da média da OCDE se comparado a resultados anteriores. As raparigas nesse quesito estão à frente, tiveram pontuações significativamente superiores às dos rapazes. Porém quando o foco é a Literacia em Ciências e Matemática, o cenário muda.
A Literacia em Ciências diz respeito à capacidade do aluno de se envolver com questões relacionadas com a ciência e com a ideia da ciência, ou seja, se o aluno tem capacidade de participar de uma discussão sobre ciência e tecnologia, se é capaz de explicar fenômenos, avaliar e planejar investigações científicas, e se consegue interpretar dados e evidências cientificamente. A partir deste indicador é possível, entre outros aspectos, avaliar se o aluno ou aluna tem um interesse crescente em ciências, o que pode vir a ser um dos fatores decisivos para a escolha de uma carreira científica no futuro [2].
Os resultados do PISA 2018 mostram que, em Portugal, os rapazes obtiveram melhores desempenhos em ciências do que as raparigas, 494 pontos vs. 489 pontos. A diferença, que pode parecer insignificante, aponta para uma tendência nacional constante em relação aos resultados de anos anteriores e coloca o país em posição divergente aos resultados médios da OCDE, onde a situação se apresenta favorável às raparigas. E quando o foco são as carreiras científicas, entre os alunos portugueses que pensam em ter carreiras voltadas às ciências e às engenharias, um em cada dois rapazes pensa em fazê-lo, enquanto no conjunto das raparigas, apenas uma em cada sete pensa no assunto [3].
Para se ter uma ideia dessa tendência no país, no ano de 2006 os rapazes obtiveram 477 pontos vs. 472 pontos das raparigas, novamente em 2015 eles tiveram vantagem, os rapazes obtiveram 506 pontos vs. 496 pontos das raparigas. As raparigas estiveram à frente, em 2 de 5 edições, 2009 e 2012, porem de forma não significativa [4].
Para além disso, as raparigas portuguesas também estão em desvantagem na literacia matemática, segundo o relatório do PISA 2018, elas fizeram 488 pontos, enquanto os rapazes alcançaram uma pontuação média de 497 [3].
Considerando os resultados apresentados pelo PISA, em ciclos anteriores e agora em 2018 e a relação entre literacia científica e a opção por determinadas carreiras científicas, a confirmação dessa tendência, no tocante ao género, nos próximos ciclos, pode representar daqui a alguns anos uma presença feminina reduzida em carreiras nas áreas das Ciências e Engenharias, em Portugal.
Porém, cabe ressaltar que, em Portugal, as mulheres são maioria no ensino superior e o país foi um dos que mais evoluiu em questões de equidade de género a nível da educação. A busca por determinadas carreiras passa por diversos fatores, desde a forma como a matemática é ensinada até as crenças dos professores que acreditam que existem diferenças entre raparigas e rapazes, e que estes últimos aprendem melhor e mais rápido disciplinas de cálculo. Para além disso, fatores sociais e familiares também devem ser levados em consideração.
Esperemos que os resultados apresentados no Relatório Pisa 2018 não representem um desequilíbrio de género nas áreas das Ciências e Engenharias, o que colocaria o país na contramão de um desenvolvimento sustentável.
Notas
[1] UNESCO (2017). Cracking the Code: Girls’ and Womens’ Education in Science, Technology, Engineering and Mathematics (STEM). Technical Report. Paris. UNESCO. Disponível em URL http://unesdoc.unesco.org/images/0025/002534/253479e.pdf.
[2] OCDE (2016). PISA 2015 Results: Excellence and Equity in Education. Volume I. Paris: OECD Publishing.
[3] Lourenço, V., Duarte, A., Nunes, A., Amaral, A., Gonçalves, C., Mota, M., & Mendes, R. (2019). PISA 2018 – Portugal. Relatório Nacional. Lisboa: IAVE.
[4] Fernandes, D., Neves, C., Tinoca, L., Viseu, S., & Henriques, S. (2019). Políticas educativas e desempenho de Portugal no PISA (2000-2015). Lisboa: Instituto de Educação.
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