Dimensão analítica: Cidadania, Desigualdades e Participação Social
Título do artigo: Educação para cidadania no contexto do COVID-19
Autora: Patricia Campello
Filiação institucional: Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento (CeiED) / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT)
E-mail: patricia.campello@hotmail.com
Palavras-chave: Educação para Cidadania, Escola, Covid-19.
O cenário em que vivemos atualmente, em função da pandemia de Covid-19, nos exige uma forma diferente de interpretar os fenômenos e de nos comportarmos em relação a nós mesmos e aos outros. Os relacionamentos interpessoais se tornaram mais frágeis, o mundo do trabalho teve que se adaptar a uma relação remota e produtiva, talvez até com novas profissões e extinção das antigas.
A educação precisou romper com as barreiras do isolamento e “entrar” nas residências, trazendo as famílias para o trabalho cooperativo com as escolas, que também precisou enxergar essa realidade e trazer a gestão para perto da comunidade educativa, e a ciência ganhou destaque na tentativa de descobrir como alterar este novo ambiente, controlando o processo de disseminação da pandemia.
Mas surge agora um novo desafio: Como desenvolver o programa de Educação para Cidadania com os jovens e toda a comunidade educativa neste novo cenário? Um cenário que precisa trabalhar urgentemente o respeito e o cuidado com o outro. Um cenário onde se questiona a participação dos jovens em salas que discutam temas de cidadania? Como se fosse possível pensar em cidadania como opcional ao longo da vida.
Cabe as escolas uma grande responsabilidade, pois elas são vistas como organizações vivas, articuladas por uma rede de relações onde pode haver interferência direta ou indireta dos indivíduos envolvidos [1]. Nessa direção, é importante que todos os participantes desse processo estejam preparados através de conhecimentos, habilidades, atitudes, e principalmente de autonomia para atuar de maneira proativa. É necessário que comecem a exercitar o seu papel enquanto cidadãos portugueses atuantes e reflexivos na busca de discussões para mudanças.
Não podemos também deixar de perceber que a escola acaba sendo responsável por perpetuar desigualdades sociais em toda sociedade que defende os ideais democráticos, protegendo os privilégios através de hierarquias, constrangimentos e tratando todos como se fossem um único indivíduo [2]. Mas agora, faz-se necessária uma transformação nesse cenário, onde cada participante do processo educativo questione a sua própria atitude na realidade portuguesa.
Esta análise crítica sobre o papel da escola, corrobora a preocupação sobre as habilidades desenvolvidas no aluno quando finaliza o ensino formal. Um exemplo de tal preocupação corresponde à busca em avaliar os resultados e promover ações voltadas para a educação cidadã como uma forma de transformar os alunos em sujeitos ativos, sugerida em 2012 [3].
A Educação para a Cidadania começou em 2012 quando foi lançado o guia pedagógico, a saber: “Educação para Cidadania Global: tópicos e objetivos de aprendizagem”, pautada no trabalho conjunto, com professores, especialistas em educação, consultores independentes e representantes da UNESCO nos diferentes países, com o objetivo de estabelecer orientações para que os estados membros pudessem trabalhar os conceitos de Educação para Cidadania de acordo com seus contextos culturais e faixa etária.
A DGE [4] apresentou a “Estratégia Nacional: Educação para Cidadania”, com o objetivo de traçar, nacionalmente, um plano que pudesse permitir boas práticas na cultura escolar local e global, através do envolvimento e participação de toda a comunidade educativa e vinculados ao 4º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável – ODS 4: “Assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos.”
A partir da meta 4.7 deste objetivo: é esperado que até 2030, sejam garantidas as habilidades e conhecimentos necessários para estilos de vida sustentáveis, direitos humanos, igualdade de gênero, promoção de uma cultura de paz e não violência, cidadania global e valorização da diversidade cultural e da contribuição da cultura para o desenvolvimento sustentável [5].
Para que isso seja possível é necessária uma nova forma de gerir o espaço educativo, envolvendo toda a comunidade educativa neste processo de analisar e decidir o currículo escolar, a formação docente, a avaliação escolar e a prática cidadã, principalmente agora neste cenário onde precisamos humanizar as relações.
Podemos refletir que a partir das novas formas de organização e decisão coletivas, apresenta-se a necessidade de discussão de alguns tópicos essenciais, como, por exemplo, as questões dos direitos humanos; a democracia cosmopolita; o multiculturalismo e a dinâmica da cidadania. Deste modo, tratar dos valores, solidariedade e promoção dos direitos tornam-se desafios para uma cidadania e democracia local e global [6].
Qual a nova ordem que se apresenta diante de um cenário que fragilizou e, principalmente, redefiniu novas formas de se relacionar, de se aprender, de se ensinar, de trabalhar e produzir em Portugal?
Como desenvolver uma educação voltada para a cidadania nas escolas portuguesas?
Como pode a comunidade educativa portuguesa envolver-se verdadeiramente nesta co-criação e na construção de cidadãos solidários e mais comprometidos com o cuidado com o outro, com a humanidade e com o meio ambiente?
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Notas:
[1] Luck, H., Freitas, K. S., Girling, R. & Keith, S.l. (2000). A escola participativa: O trabalho do gestor escolar. Rio de Janeiro, RJ: DP&A editora.
[2] Bourdieu, P. (2007). Escritos de educação. Org: Maria Alice Nogueira e Afranio Catani. Petrópolis, RJ: Vozes
[3] Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (2012). Educação para a cidadania global: Tópicos e objetivos de aprendizagem. Brasília: UNESCO Brasil.
[4] Direção Geral de Educação (10 de maio de 2016). Estratégia Nacional: educação para cidadania. Recuperado em 08 de janeiro de 2020: https://www.dge.mec.pt/estrategia-nacional-de-educacao-para-cidadania
[5] Organização das Nações Unidas Brasil (Setembro, 2015) Recuperado em 01 de maio de 2020, acesso em: https://nacoesunidas.org/pos2015/
[6] Torres, C. A. (2001). Democracia, educação e multiculturalismo. Dilemas da cidadania em um mundo globalizado. Petrópolis, RJ: Vozes.
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