O PISA e a industrialização da Educação

Dimensão analítica: Educação e Ciência

Título do artigo: O PISA e a industrialização da Educação

Autor/a: Teresa Teixeira Lopo Lopo, Vítor Rosa

Filiação institucional: CeiED – Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento, ULHT

E-mail: teresa.lopo@ulusofona.pt; vitor.rosa@ulusofona.pt

Palavras-chave: PISA, Literacia, Educação.

O Programme for International Student Assessment (PISA) foi criado nos fins dos anos 1990 pela a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), sendo, segundo Andreias Schleicher, motivado pela vontade de aplicar o rigor da pesquisa científica às políticas de educação [1]. Nesse sentido, quiseram inovar, tendo em vista que a OCDE já tinha publicado diversas comparações sobre resultados da educação, mas eram fundadas, principalmente, sobre as variáveis dos anos de escolaridade.  A pretensão deste novo projeto não era a de criar mais um exercício de análise, mas de ajudar os responsáveis a se focalizarem sobre os professores, os estabelecimentos de ensino e os países.

De uma ideia indesejada e impossível de levar a cabo, este inquérito tornou-se uma referência mundial no domínio da avaliação da qualidade, da equidade e da eficiência dos sistemas de educação. Em matéria de educação, equidade significa que o sistema educativo fornece as mesmas oportunidades de aprendizagem a todos os alunos. Dito de outro modo, a equidade expressa que todos os alunos, de meios socioeconómicos diferentes, atingem níveis similares de performance escolar e de bem-estar social e têm a mesma probabilidade de obter um diploma de ensino pós-secundário. Ao identificar as caraterísticas dos sistemas de educação mais eficazes, o inquérito PISA pretende permitir aos governos e aos profissionais da educação inspirarem-se em políticas eficientes, que podem depois adaptar ao seu contexto local.

Este inquérito internacional procura avaliar em que medida os alunos (de 15 anos de idade) que se aproximam do final da sua escolaridade obrigatória possuem certos conhecimentos e competências essenciais para participar plenamente nas sociedades modernas. Ele concentra-se tradicionalmente sobre matérias-chave, a saber: a literacia de literatura, a literacia matemática e a literacia científica. Mais recentemente incide também sobre a resolução colaborativa de problemas e a literacia financeira. A partir de 2018, os testes PISA vão avaliar outras competências dos alunos, tais como o respeito e a abertura à diferença cultural. O PISA, nas palavras de Schleicher [2], “é uma história de como as comparações internacionais globalizaram o campo do ensino, que, geralmente, tratamos como um assunto de política interna”. Os primeiros resultados do PISA, publicados em 4 de dezembro de 2001 suscitaram vivos debates, provocando em vários países o que veio a ser designado por “PISA shock, pois revelavam uma realidade diferente da imaginada. E ainda continuam a desencadear.

Os dados disponibilizados pelos sucessivos estudos do PISA revelam que, em todos os países participantes, os resultados da aprendizagem estão ligados ao perfil socioeconómico dos alunos e dos estabelecimentos de ensino, constituindo, desta forma, um grande desafio para os professores e as unidades de gestão escolar. Mas, por outro lado, a intensidade das relações entre o perfil socioeconómico e a qualidade da aprendizagem muda consoante os sistemas de educação. No fundo, na perspetiva do “pai” do PISA, é uma prova de que o fracasso escolar não é apenas para os alunos mais desfavorecidos [1].

Pela sua dimensão, este inquérito mobiliza centenas de organizações (públicas e privadas) e de profissionais ligados a diferentes áreas do conhecimento. No fundo, verifica-se um processo de “industrialização” da educação (métodos e modos industriais para ensinar, aprender e administrar o sistema educativo), cujo fenómeno se produz de forma diferenciada segundo os países, e que na Europa e na América do Norte teve o seu início no século XX, como bem sublinha Khôi [3]. A OCDE, ao disponibilizar os dados recolhidos através do PISA, promove, assim, os “fatores de produção”, ou seja, procura contribuir para o desenvolvimento económico e social das Nações, através da educação. Os dados permitem um retrato da “matéria-prima”, os alunos, os estabelecimentos de ensino, os conteúdos, os métodos, as técnicas pedagógicas, os professores e os encarregados de educação.

Relativamente ao Consórcio PISA, podemos constatar, através de uma investigação em curso, que ele tem vindo a crescer nas várias edições: de 4 organizações (em 2000) passou para 14 (em 2015), com uma clara preponderância dos EUA e da Austrália. É interessante destacar que três grandes organizações, a Australian Council for Educational Research (ACER), a Improving Lives Through Research (WESTAT) e a Educational National Services (ETS), a primeira da Austrália e as duas últimas dos EUA, controlaram a produção do teste PISA de 2000 a 2015. No que diz respeito ao Grupo Consultivo do PISA, de 2000 a 2015, verifica-se que está concentrado em peritos de 10 países, com destaque para os EUA, a Holanda e a Austrália.

Entre 2000 e 2009 também o número de países participantes, incluindo países não membros da OCDE, tem vindo a aumentar, passando de 43 países em 2000, para 72 países em 2015.

Portugal participou em todas as edições (2000, 2003, 2009, 2012, 2015 e 2018). Na edição do PISA 2015, Portugal, numa escala ordenada, ficou em 17.º lugar na literacia científica com 501 pontos, 18.º em literacia de leitura com 498 pontos e em 22.º na literacia matemática com 492 pontos, ficando acima da média da OCDE em todos os domínios. Desde a edição do ano 2000, com destaque para a progressão evidenciada a partir do ciclo de 2009, Portugal tem vindo a registar uma tendência de melhoria dos resultados nos três domínios analisados.

Tomando como referência as últimas edições de 2012 e 2015, as pontuações médias de Portugal no PISA aumentaram 28 (em leitura), 38 (em matemática) e 42 pontos (em ciências). Os resultados do PISA 2018 ainda não foram divulgados.

Notas

[1] Schleicher, A. (2019). Quelle école pour demain? Bâtir un système scolaire pour le XXIe siècle. Quebec: PUQ.

[2] Schleicher, A. (2012). PISA – OCDE Programme for International Student Assessment. TEDGlobal conference, 2012. Disponível em < https://www.ted.com/talks/andreas_schleicher_use_data_to_build_better_schools?utm_campaign=tedspread&utm_medium=referral&utm_source=tedcomshare>. Acesso em 9 abr. 2019.

[3] Khôi, L.-T. (1968). L’industrie de l’enseignement. Paris: Editions de Minuit.

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